Por Laura de Almeida Mello
A questão ambiental é um dos maiores problemas mundiais e um dos assuntos mais discutidos atualmente. Problemas como contaminação do solo e de corpos d’água por óleos, metais ou outros contaminantes causam risco para a biodiversidade local, que pode levar anos para ocorrer a descontaminação natural. Assim, a biorremediação entra em cena como o processo mais limpo e seguro para a descontaminação destas áreas, contando com microrganismos locais que degradariam os contaminantes. Esse processo é similar com o que aconteceria na natureza, mas utiliza técnicas específicas para aumentar a população destes microrganismos, fazendo com que o contaminante se degrade mais rapidamente. Desse modo, não gera resíduos ou agride mais uma área previamente sensível.
Em um levantamento feito por graduandos da Universidade Católica de Santos em Engenharia Ambiental em 2013, somente no Estado de São Paulo há 32 empresas que tratam de biorremediação e/ou remediação. Destas, 8 já ofereciam serviços de biorremediação há mais de 5 anos, e 7 passaram a oferecer nos últimos 5 anos. “As vantagens e desvantagens da biorremediação variam de acordo com o processo e os contaminantes.”, explica Gustavo Gregoracci, doutor em Microbiologia pela Universidade Estadual de Campinas. “Precisamos observar antes, fazer análises dos microrganismos presentes para descobrir qual degradaria o contaminante, sem tornar o ambiente mais tóxico do que inicialmente”. A pós doutora em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo (USP) Elen Aquino explica ainda todas as etapas do processo: “Primeiro é preciso levantar o histórico da área, descobrir quais contaminantes estão presentes, se são orgânicos ou inorgânicos, como metais, a profundidade e o nível da contaminação, e o solo. Depois disso, podemos começar a analisar os microrganismos presentes no local para saber qual degradaria melhor o contaminante. Então, fornecemos fontes que façam estes microrganismos aumentarem sua população, aumentando a velocidade da descontaminação.”.
Gunther Brucha, pós doutor no Departamento de Tecnologia Ambiental na Universidade de Wageningen, Holanda, conta que, durante seu pós doutorado, fez a remediação de algumas áreas utilizando fontes de carbono e microrganismos locais, mostrando que na Europa este processo biológico já é uma realidade, mesmo demandando mais tempo do que os processos físicos ou químicos. “Aqui no Brasil eu não conheço muitos processos de biorremediação,” comenta “mas é uma área que realmente precisa avançar para que possamos, efetivamente, tratar áreas com ajuda de microrganismos.”. Atualmente faz uma pesquisa em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), tentando analisar o impacto dos rejeitos do desastre de Brumadinho, que despejou aproximadamente 12 milhões de toneladas de resíduos tóxicos, principalmente metais, no Rio Paraopeba, mais precisamente no Reservatório de Retiro Baixo, localizado a 300km do local do desastre. A pesquisa analisa o Reservatório antes e depois da chegada dos rejeitos, observando sua precipitação e seu impacto na comunidade microbiana presente, tendo chances de se tornar um projeto de biorremediação.
De acordo com os profissionais, as maiores dificuldades para a implantação geral da biorremediação no País são a falta de investimento em pesquisas e falta de pessoal, principalmente microbiologistas, para encabeçar os projetos. “A pesquisa para começar um projeto de biorremediação requer paciência, tempo e dinheiro para se pôr em prática”, explica Gustavo, “e com a ciência recebendo cada vez menos estímulo do Governo fica cada vez mais difícil. Muitos casos analisados em laboratórios nunca vão para campo”.