Besouro Azul: herói clássico aprimorado com tempero latino

A DC seguiu sua fórmula batida, mas tentou entregar outro resultado ao adicionar latinidade
por
Catarina Pace
|
04/09/2023 - 12h

O filme Besouro Azul, baseado nos quadrinhos da DC Comics, estreou no dia 17 de agosto nos cinemas brasileiros. A história segue a vida do jovem mexicano Jaime Rayes, interpretado por Xolo Maridueña, que volta recém-graduado para a casa de sua família em Palmera City, mas deve ajudá-los a enfrentar problemas financeiros. Em meio ao propósito de ajudar sua família e seguir sua carreira, ele esbarra com uma relíquia, o Escaravelho, que tem o poder de transformá-lo em super herói.

Durante o desenrolar da trama, o protagonista descobre que o objeto pertence a Victoria Kord (Susan Sarandon), que une forças para combatê-lo. O herói recém transformado tem a ajuda de Jenny Kord (Bruna Marquezine), sobrinha da vilã, para salvar a cidade do poder das Indústrias Kord.

O longa-metragem já era esperado por muitos mesmo antes do anúncio de Bruna Marquezine como coadjuvante, que está mais para personagem principal e gerou o que falar sobre sua participação em seu primeiro filme fora do Brasil. 

Seguindo a fórmula clássica de filme herói, a trama não é muito diferente dos outros títulos da DC/Warner, mas o que tornou a obra mais especial, e surpreendentemente destacou o longa entre os outros títulos do estúdio, foi a “latinidade”, que o diretor e o roteirista puderam colocar como central na trama.

A questão étnica não é um tema que foge do gênero herói e recentemente se tornou combustível para a produção de filmes representativos e que, se bem feitos, são bem avaliados pelo público. Porém, mesmo com a questão étnico-racial fortemente presente no longa-metragem, ele se diferencia muito de Pantera Negra, da Marvel Studios, por exemplo, que se ancora na cultura e em símbolos africanos.

Em Besouro Azul, a cultura latina é superficialmente explorada em detalhes como “piadas” e amor familiar, que se sobressaem na  maioria das cenas. O grande problema foi a exibição de latinos como escandalosos e deslumbrados, um estereótipo batido que acaba impressionando negativamente, já que o diretor, Angel Manuel Soto, é porto-riquenho.

A maior revelação do filme foi Bruna Marquezine, que em sua estreia em produções internacionais, deu um “chega pra lá” nos haters com sua atuação digna de prêmios. Com um bom molho latino e uma química explícita com o protagonista, Bruna demonstrou a importância de uma brasileira atuar em Hollywood e causou impacto ao redor do mundo.

Assim como na vida real, a personagem dela também é brasileira, o que contribui mais um pouco com a narrativa latina da obra. Esse fato garante que a história seja muito mais que só mais um filme de herói em que o salvador é branco, e acaba mostrando um sentimento de comunidade e pertencimento que vem do diretor e também do roteirista, Gareth Dunnet Alcocer, de origem mexicana.

A construção do diálogo e do desenrolar da narrativa acabam por convencer o público de que o filme é bom, mesmo que Besouro Azul não venha a ser o novo grande “salvador” da DC - promessa feita pelo estúdio a cada lançamento.

Eles capricham nas piadas, mas não deixam com que elas carreguem o filme, combinando outros elementos que também complementam o roteiro. Os efeitos especiais não desapontam, mas não são perfeitos — algumas gafes são facilmente percebidas na armadura do herói ou nas lutas entre os personagens.

Apesar das fortes críticas da imprensa, o longa também surpreende e entrega aventura, diversão e bons momentos de tensão. No entanto, poderia ter dado mais atenção aos detalhes e à forma com que aborda os personagens latinos. O protagonista, Xolo Maridueña, é um colírio para os olhos que buscam um herói obstinado a ser um bom salvador do mundo, ou melhor, de Palmera City.

Bruna Marquezine entrega tudo e mais um pouco e mostra que seu talento é digno, sim, de um filme melhor e mais bem avaliado em Hollywood.

Vale mencionar que o longa teve 82% de aprovação do Rotten Tomatoes, plataforma que reúne críticas para avaliar filmes, e só não conseguiu mais engajamento por conta da greve de roteiristas e atores de Hollywood, que paralisou ações de marketing e divulgações de filmes. 

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