Campus — Entrada restrita. Somente pessoal autorizado. Não era para ser assim, mas as circunstâncias são outras. A diretoria está tensa, pressionada. Não tinha o que fazer. Levaram os cadeados, conforme disseram que fariam. Foi quando as ameaças ganharam os papéis, mais do que as línguas cuspidas nos corredores. Foi demais, até para elas. O espaço precisa ser fechado.
Mas a chave ainda é da Comunicação. Ironias à parte, o Centro Acadêmico Benevides Paixão, carinhosamente apelidado de “Benê”, publicou um comunicado nas redes sociais relatando o caso. No dia 29 de agosto, a notícia que chegava ao público era que “o espaço físico será trancado durante à noite e aberto pela manhã”. Até aí, nada diferente da rotina de uma casa bem guardada. Só que estes repórteres não se contentaram só com o que se expunha nas vitrines. O nosso curso pedia mais informações, quer saber o que houve. Está na grade apurar a fundo, cadeado por cadeado, e entender o que motivou a decisão.
A nota entregava o descaso dos ocupantes com o espaço. De fato, as fotos comprovam a sujeira e a falta de decoro com a arrumação. A casa de mãe Livia parecia mais a de Joana, por mais esforços que ela fizesse para manter limpinho e agradável aos estudantes que guardam o direito de ocupá-lo.
O direito permanece ali, apesar das aparências. “Vale ressaltar que a convivência amigável de alunos dos mais diversos cursos é sempre bem-vinda e incentivada pelo CA”, conclui a nota. A diretoria foi transparente, pelo menos o quanto podia ser. O buraco, claramente, é mais embaixo.
Em meio às conversas com a Diretoria, a AGEMT ouviu que o espaço sofria de maus tratos há algum tempo, e não só por parte dos estudantes compreendidos na cartilha do curso de Jornalismo – o que, por comparação, não foge da rotina desconfortável dos demais centros acadêmicos. Contudo, o que não se divulgava era justamente o que abriu os primeiros cadeados.
Eles entrariam de qualquer jeito. Deixaram por escrito. “Trancar CA? Destranquem ou vão perder, além do espaço, a tranca”, alertava a folha avulsa de fichário. “Desta vez estamos sem alicate”.
A decisão permanece. O espaço físico do Benê continuará fechado durante as noites e reaberto pela manhã, sob responsabilidade das dirigentes. Não é um caso isolado. Como se pode imaginar, outros CA’s seguem a mesma conduta em razão de comércios presentes no espaço, seja cantina ou xérox.
Mas aqui deve ser diferente. O Benê é uma casa no meio do bosque. Guarda toda uma história por trás dos portões emperrados. Aliás, no semestre passado, a FAFICLA - faculdade que rege o curso - conduziu uma visita especial ao recanto dos jornalistas, e a direção do CA se inspirou com a possibilidade de uma reforma.
“Levei o diretor de campus ao Benê para verificar o que poderia ser feito lá”, confirmou o diretor da FAFICLA, Fábio Cypriano.
Por enquanto, sem previsão de datas, mas é questão de formalidade. “A gestão ficou de formalizar as necessidades”, explica o diretor. “Creio que isso não foi feito”.
A urgência, entretanto, amarga a burocracia. Em meio ao sumiço de cadeados, descuido com os forros dos sofás e amostras de bitucas de cigarro, o espaço pede socorro. Os ocupantes, contudo, cospem as chaves, teimosos em entrar.
O conflito, já agravado com caneta e palavrões em páginas avulsas de fichário, não chegou à FAFICLA, situada no prédio velho, a poucos metros dos portões violados, não fosse a parede reforçada que os separa.
“Não recebemos nenhuma informação a respeito”, declara Cypriano.
As paredes não têm ouvidos, afinal. E quem perde é a Comunicação.