Bateria da USP participa do show do Coldplay

O grupo de percussão do curso de direito da Universidade de São Paulo se apresentou no dia 18, após convite inédito.
por
Beatriz Brascioli
Fernanda Travaglini
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13/04/2023 - 12h

       A banda britânica Coldplay, conhecida por sucessos como Paradise e Viva La Vida, se apresentou nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba entre os dias 10 e 28 de março pela turnê "Music of the Spheres". Além das diversas ações que marcaram a temporada, um convite inédito entra para a história da bateria universitária do curso de direito da USP, sediado no tradicional Largo de São Francisco. No dia 18 de março, os jovens da B.A.I.S.F entram no palco ao lado de um dos maiores grupos da atualidade. 

Em entrevista à AGEMT, Kauê Limeira de Paula (22), estudante e líder do grupo, conta sobre a experiência. Confira a seguir:

[AGEMT]: Como foi o encontro entre a Bateria e o Coldplay?

[Kauê]: Então, essa foi a grande loucura (risos). A gente ensaia de final de semana, ali perto do Parque Ibirapuera, em um local que chamamos de "Campo do 11". Estávamos finalizando o ensaio quando um cara de 1,90m de altura – e eu até me assustei, pensei que ele fosse reclamar – chegou perto de mim e falou "olha, eu tô com o vocalista do Coldplay aqui, ele queria escutar vocês um pouco, ele pode?".
Eu, que já tinha me assustado, fiquei mais ainda quando ele falou isso! Daí eu falei sim, ele virou as costas e eu disse para a bateria "eu acho que o Coldplay tá aqui", mas eu nem conseguia entender as palavras que saíam da minha boca (...). Nesse momento todo mundo ficou confuso, porque eu não consegui passar a informação direito. Depois de alguns segundos, o Chris Martin [vocalista do Coldplay] saiu de uma van e todo mundo surtou (...). O pessoal gritou e começou a fazer vídeos. Este foi o primeiro encontro. Ele [Chris] falou que estava no Ibirapuera, ouviu a gente tocar, gostou e estava procurando o som. 

[AGEMT]: Que demais! 

[Kauê]: Ele chegou até a gente, perguntou se poderia ouvir um pouquinho e depois veio o convite: "Vocês se interessariam em tocar com a gente sexta-feira?". E topamos! "Vamos sim!". Ele trocou um pouco de ideia com o pessoal e tal... Ninguém conseguia acreditar. 

[AGEMT]: Como foi se apresentar para um público tão grande quanto o do Morumbi? 

[Kauê]: A gente não estava acostumado a fazer apresentações tão grandes, acho que a maior que fazemos é, todo ano, na formatura de cada turma (...). Mas no dia em si, acho que a maioria [dos integrantes da bateria] estava tranquila. Até por conta da segurança que a produção e o Coldplay passaram pra gente, foram super simpáticos, amáveis, dando todo apoio e tratando a gente super bem. Tínhamos tudo que era necessário para tocarmos bem. (...) Estávamos felizes e tranquilos, confiantes, pois ensaiamos quatro dias seguidos. 

[AGEMT]: Como foi o planejamento com a equipe para a apresentação? 

[Kauê]: Conversamos diretamente pelo e-mail da produção do Coldplay, em inglês. 

[AGEMT]: Vocês levaram os próprios instrumentos?

[Kauê]: Sim. No e-mail, eles até chegaram a perguntar quais instrumentos a gente tinha, e foi difícil explicar os nomes dos nossos instrumentos em inglês – surdo, agogô, caixa (risos). 

[AGEMT]: Vimos que vocês fizeram uma bandeira e colocaram no mascote. Como elaboraram?

[Kauê]: Sim! Pegamos a arte do tour [turnê Sound of the Spheres] e colocamos no Chiquinho [o mascote] na bata da turnê. No lugar dos planetas [referentes à proposta visual do Coldplay para a turnê], temos nossos instrumentos. 

[AGEMT]: A preparação de vocês envolveu também um figurino novo? 

[Kauê]: A gente tentou fazer uma camiseta, mas não conseguimos a tempo [havia apenas 4 dias]. Mas a preparação envolveu todas as frentes da bateria. Enquanto alguns pensavam no arranjo [musical], outros pensavam em como que a gente iria fazer a logística, a arte – e aí veio a ideia da bandeira também. 

[AGEMT]: Como foi estar no backstage do Coldplay? 

[Kauê]: Ficamos espantados com quanta gente trabalha lá [no backstage do show]. A gente chegou lá [no Estádio Morumbi] e eles trataram a gente como artistas. Tinha camarim, comida. Chegamos super cedo, a gente ia passar o som às 14h, sendo que o show só iniciaria por volta das 20h (...). Quando começou realmente, deram alguns assentos pra gente em um camarote. Foi ótimo. Meia hora antes da gente entrar, voltamos ao backstage. 

[AGEMT]: Como foram decididas as músicas que apresentariam? 

[Kauê]: Tivemos que montar [o arranjo musical] todo do zero. Íamos tocar, primeiramente, na sexta-feira, a música Hymn for the Weekend, a pedido da banda. E aí, no meio da semana eles mudaram para sábado e pediram para tocarmos Fix You e Biutyful. Não tínhamos planejado muita coisa, mas ainda assim tivemos que repensar o que fazer, pois são mais lentas. A gente toca samba e não estamos acostumados a tocar músicas mais lentas. Foi um desafio tirar a ideia do papel. A bateria tem um pessoal craque nisso, pensaram por um dia inteiro, conseguimos treinar e reproduzir no show. 

[AGEMT]: Essa é uma experiência que vai ficar para a história da bateria? 

[Kauê]: Total, até da faculdade [Direito] e de outras baterias. 

[AGEMT]: Vocês gostariam de ter mais oportunidades de tocar em grandes shows? 

[Kauê]: Se houver algum convite, a gente não vai recusar de forma nenhuma! (risos). Mas não é o que vamos atrás (...). Há alguns anos não participamos mais de torneios, apenas dos jogos universitários e formaturas. 

[AGEMT]: Qual é a história da bateria de vocês? 

[Kauê]: Ela tem 24 anos de história, com início real em 1999. Nos anos 1990, houve uma tentativa, mas era um pessoal muito fechado, que se formou e levou os instrumentos – e meio que acabou a bateria. E aí ela foi refundada em 1999 pela Vanessa Grande, nossa mãe, e é a Bateria de Agravo de Instrumento da São Francisco (BAISF). 

[AGEMT]: Vocês acreditam que a participação no show pode aumentar o interesse dos estudantes pela bateria? 

[Kauê]: Estamos esperando que aumente o número de pessoas interessadas, já nos procuraram para isso, inclusive. Todo mundo vem falar. 

[AGEMT]: Kauê, agradecemos muito pela sua contribuição. Parabéns tanto pelo reconhecimento do Coldplay e pela participação no show. Vida longa para a BAISF!

[Kauê]: Eu que agradeço! Se eu puder fazer uma menção de agradecimento, deixo ao Maurício Vilcher – diretor da bateria – que iria participar hoje mas teve um contratempo. 

De acordo com nota emitida pela BAISF nas redes sociais, acredita-se que a participação da bateria no show de uma banda conhecida mundialmente é um marco de valorização a todas baterias universitárias, que com frequência são encaradas pela comunidade como "jovens que fazem barulho" ou "atrapalham". 

O reconhecimento dado pelo Coldplay demonstra a "beleza da prática musical e cultural". Internautas apoiam e reforçam a importância das baterias universitárias, ressaltando a necessidade de maior valorização e apoio. 

 

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