Desde o começo da crise da Covid-19em março de 2020, 12 mil bares e restaurantes fecharam só na cidade de São Paulo, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP). Segundo a entidade, a principal causa dos fechamentos foram as restrições impostas pela pandemia.
A Abrasel indica uma perda de R$ 20 bilhões no faturamento de bares e restaurantes para este ano no país, passando de R$ 235 bilhões para R$ 215 bilhões. A instituição também destaca que o número de empregos formais, durante a pandemia, caiu de 3 milhões para 1 milhão.
Ao todo, 2,5 milhões de trabalhadores do setor perderam o emprego. Ainda segundo a entidade, 50 mil estabelecimentos fecharam as portas no estado de São Paulo e 300 mil no Brasil.
A associação aponta que 85% dos estabelecimentos da capital paulista correm risco de fechar caso não haja um auxílio financeiro. Além disso, 20% do comércio não deve retomar as atividades presenciais, já que os custos não compensam, pois o faturamento de bares e restaurantes não deve atingir 25% do que era antes da pandemia.
A saída para os comerciantes tem sido o sistema de delivery, segmento que cresceu muito em São Paulo. De março a dezembro do ano passado, o número de novos bares e restaurantes cadastrados no Ifood cresceu 78%, por exemplo.
Na contramão da crise, empreendedores tentam abrir novos estabelecimentos na capital. Julio Sant’Anna, de 33 anos, trabalhava como barman e garçom e sonhava em ter o seu próprio comércio. Mesmo em meio à pandemia, Julio abriu o Tocandira Lab, bar localizado na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.
“Estou na área de bares e restaurantes há dez anos. Cheguei a receber uma proposta boa de emprego antes da pandemia, mas neguei e resolvi que não iria trabalhar para mais ninguém. Eu sei fazer bem uma coisa: deixar as pessoas felizes e bêbadas, então resolvi abrir o bar, mesmo no meio da pandemia”, conta o barman
A ideia inicial de Julio era abrir o bar com uma loja de roupas e uma tabacaria, mas a pandemia dificultou os planos de prestar os serviços de forma presencial. Segundo o empreendedor, não é o momento ideal de abrir o comércio e promover aglomerações, então ele foi mais um a investir no delivery, por enquanto centrado em cervejas artesanais. O barman também está reformando o espaço físico e a cozinha para incluir hambúrgueres entre as opções de entrega.
“Não posso atender as pessoas (presencialmente), então estou buscando alternativas até que eu possa abrir o bar.”
Outro novo empreendedor do setor de bares e restaurantes é Pedro Henrique Reis, de 22 anos. Ele é estudante de jornalismo e viu uma nova oportunidade de começar um negócio em agosto de 2020. Em meio à pandemia, o estudante, juntamente com seu irmão, comprou dois bares na região de Diadema, local onde mora, por um valor abaixo do comum devido à crise. Os estabelecimentos ficam no mesmo local e foram batizados de Sra. Espelunca e Boteco do Henrique. “Vimos a oportunidade boa de crescer aproveitando uma ótima proposta. Um lugar que valia meio milhão estava valendo 200 (mil). Tinha que aproveitar a oportunidade”, conta o estudante.
No momento em que Pedro comprou os imóveis, o estado de São Paulo flexibilizava as medidas de isolamento e caminhava para a reabertura de bares e restaurantes com capacidade reduzida. Neste período, os bares do estudante contavam com um bom fluxo de pessoas, então foi possível lucrar com o comércio.
Porém, em março deste ano, devido ao agravamento da pandemia, o estado entrou na Fase Emergencial do Plano São Paulo e estabelecimentos comerciais foram obrigados a fechar, mas Pedro conseguiu manter os bares através de economias e com a venda de bebidas alcoólicas.
“Como todo comércio, você precisa ter um fluxo de caixa. Um dinheiro guardado. Economizamos luz, água, desligamos tudo e vendemos as mercadorias que tínhamos através dos contatos que eu já tinha. Com isso, deu pra segurar as contas até que as coisas voltem a abrir.”
Entretanto, o estudante não conseguiu pagar os salários como antes aos três funcionários dos bares devido à falta de lucro. Porém, com o dinheiro guardado, foi possível não deixá-los desamparados. Pedro não deixou de fornecer uma ajuda de custo e eles seguirão trabalhando nos bares.
Tanto Julio como Pedro têm planos para abrir seus negócios ao público assim que possível, mas, até lá, são obrigados a se reinventar para se manter na ativa. Atualmente, bares e restaurantes do estado de São Paulo estão autorizados a funcionar das 6h às 21h, com somente 30% da capacidade.