Baile movimenta a vida de idosos

Os frequentadores tem compromisso com o evento todas as semanas, onde paqueram e dançam
por
Bianca Athaide
Helena Cardoso
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21/11/2023 - 12h

Nos últimos cinco meses, a rotina de Tomaz Nobre às terças, quintas e sábados é a mesma: organizar e supervisionar o Baile da Terceira Idade, no Parque da Água Branca, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Como coordenador do Instituto da Melhor Idade, – entidade que organiza os bailes semanalmente, mas também desenvolve outras atividades e cursos com os idosos – ele é o principal responsável por estruturar práticas que visam o bem-estar e procuram melhorar a qualidade de vida de pessoas acima dos 50 anos.

Os bailes da melhor idade no parque são bem conhecidos pela população, que sabe que o evento acontece de forma regrada à 20 anos. Cerca de 400 a 500 pessoas frequentam durante a semana, e mais de 800 nos finais de semana — que tem música ao vivo. Os homens, só podem entrar de calça social. As mulheres, estão bem arrumadas, com um vestido ou saia.

 

 

Os dois salões do galpão ficam lotados de casais dançando, alguns já formados antes e outros que se conheceram lá, além dos dançarinos solitários. Ao redor da pista, vários idosos ficam sentados. Talvez tímidos demais ou aguardando o convite de alguém. Do lado de fora cria-se uma atmosfera que chama a atenção dos que passam: pessoas abarrotadas observam o movimento lá de dentro com os rostos grudados nas grades das janelas. A banda toca um pouco de tudo: sertanejo, forró, samba, valsa e bolero são os ritmos favoritos do público animado, com dança da bandeirinha e um trenzinho das mulheres solteiras.

Atarefado, o coordenador anda de um lado para o outro durante todo o baile, com a missão de no final da tarde, ter entregado um bom resultado, com o desejo de manter o elevado patamar que o evento pede, visando o maior aproveitamento dos idosos: "A gente tem um público bem amplo para agradar. E exigente viu?" Tomaz brinca. 

O som dos alto falantes além de ecoar por grande parte das extremidades do parque, sendo possível ouvir de longe, evidencia que animação e vontade de viver não é algo característico apenas dos jovens.  Maria Ivone, de 65 anos, fica surpresa ao olhar pelo lado de fora: "É cheio! Eu não gosto de entrar não. Fico aqui do lado de fora balançando. Mas acho tão legal! Senhorinhas bem de mais idade, dançando! Bem melhor do que ficar numa cama de hospital, não é? Eu acho.", ela valoriza a organização do evento. 

baile ag branca
Idosos se divertem e tem mais qualidade de vida quando vão aos bailes - Foto: UOL [Creative Commons]

O baile também é o responsável pela formação de alguns casais. Um deles, Borges e Ana Mary, estão juntos há um ano e seis meses, graças ao evento semanal. "De uma forma descabida né? Porque a gente nunca espera, quando entra no ambiente, você não está esperando nada. De repente você senta no local e a pessoa dançando fica de olho em você. E assim estamos juntos até hoje, dançando.", conta o aposentado de 77 anos, embaixo da sombra das árvores que recobrem todo o parque e trazem um sentimento bucólico de cidade do interior para o meio da Avenida Matarazzo. 

O local de realização dos bailes são os antigos casarões de paredes amarelas e grandes portas de madeira característicos da São Paulo dos anos 1930. Hoje em dia, balançam com toda animação e juventude de uma geração que reinventa o conceito sobre novas chances de amar na terceira idade: "Aconteceu na minha idade, agora, aconteceu que a gente se conheceu e estamos nos amando muito.", exalta Ana Mary, no auge dos seus 85 anos esboçando um olhar com brilho jovial e carismático por trás de seus óculos de grau de lentes amareladas.