A bailarina brasileira do tênis

Conheça a história da maior tenista brasileira
por
Julia Cesar Rangel
|
01/10/2024 - 12h

 

QUEM ERA A MARIA? 

Maria Esther Andion Bueno nasceu em São Paulo e conquistou 589 torneios durante a sua carreira. Ela ditou moda nas quadras, e foi nomeada como a maior tenista da América Latina. 

Inspirada por sua família formada por tenistas, Maria decidiu seguir o mesmo caminho. Seu irmão, Pedro Bueno, também conquistou prêmios durante a sua carreira, mas o orgulho dos Buenos era ver a caçula jogar. Ela conta que o sonho de seu pai era que sua filha construísse uma grande carreira nos palcos como bailarina, contudo as únicas danças e graciosidades que ele viu, aconteceram dentro de uma quadra de tênis. 

O nome “Bailarina do Tênis” surgiu depois da realização do sonho de seu pai em ver Maria tornando-se bailarina, e os esplêndidos movimentos de seus vestidos e a sua  graciosidade que cativou o seu público mesmo como tenista. 

Ao sair do Brasil, a paulistana começou a ser admirada e bem vista  pelo mundo, principalmente no Reino Unido. A sua fama ajudou ela a receber um convite para jogar tênis com a princesa Diana e os seus dois filhos, após encontrar-se com a realeza, Maria comenta que não sabia que o trio sabia jogar tênis. 

O estilo de vida de Bueno era simples e até depois de se tornar uma ilustre atleta, Maria se manteve humilde, vivia apenas com o necessário. Em uma entrevista para o Esporte Ponto Final a jogadora diz: “Eu tinha uma raquete e depois consegui ter mais uma, isso me ensinou a valorizar as coisas. Entretanto, os jogadores atuais viajam com 80 raquetes e após o jogo, eles cortam as cordas das raquetes e vão embora”. 

Após as dificuldades para deslanchar em um esporte que é visto somente em clubes de alto padrão, ela apegou-se apenas às melhores coisas de sua infância para guardar em sua memória. 

 

DITADURA E O ESPORTE 

Em 1964, iniciou-se um momento intenso no Brasil, a ditadura militar que durou 21 anos e teve o seu fim apenas em 1985. Este período é conhecido pela censura violenta, que os militares aplicavam em diversos meios: em jornais, com estudantes, cantores e artistas. 

A sua imagem e a de outros atletas como o Pelé, eram utilizadas pela ditadura para popularizar o Brasil, fazendo com que as pessoas acreditassem que o país estava se desenvolvendo, até mesmo no esporte. 

Maria Esther e Pelé em 1971. Foto: Revista ‘O Cruzeiro’.
             Maria Esther e Pelé em 1971. Foto: Revista ‘O Cruzeiro’. 

 

O esporte foi usado para divulgar, fazer campanhas e defender os ideais dos regimes autoritários. Uma de suas principais táticas, era investir em novos estádios, porque a população iria achar que o país estava passando por uma transição enorme modernização.

A tenista nunca expôs as suas opiniões sobre o regime militar de maneira explícita, apesar disso ela expressava suas preocupações em relação à opressão e censura que estava acontecendo. 

 

A BAILARINA DITA MODA

Ted Tinling ajudou Maria levar a moda para dentro das quadras de seu esporte favorito. O estilista particular da tenista criava vestidos que eram adaptados aos gestos e movimentos do tênis, e fez com que as suas saias criassem uma movimentação mais fluida e estética. 

Existe uma regra no torneio de Wimbledon dizendo que os tenistas devem usar roupas predominantemente brancas, e essa regra foi criada por conta de Maria. No torneio de 1962, em Wimbledon, a brasileira que já era tricampeã do torneio vestiu um vestido branco, mas por baixo estava usando um short pink. Todas as vezes que ela servia (sacava), a peça aparecia.

A organização de Wimbledon ficou chocada e o episódio foi nomeado de “Shocking Pink”. Apesar disso, por ser muito querida no país, decidiram abafar o caso e Maria continuou a usar os seus shortinhos coloridos, mas a partir de 1964 foi decretado que o dress code devia ser predominantemente branco e isso permanece até os dias atuais. 

Carlos Alcaraz seguindo o dress code de Wimbledon em 2024 Foto: Clive Brunskill/Getty Images

Carlos Alcaraz seguindo o dress code de Wimbledon em 2024. Foto: Clive Brunskill/Getty Images

 

 

IMPORTÂNCIA DE MARIA 

Sendo uma das mulheres mais importantes para a história brasileira, Maria foi conhecida pelo mundo inteiro e levou o seu sangue latino e femenino para outros países, sem perder a sua autenticidade. 

Ela inseriu-se no esporte em uma época em que a participação feminina no mundo esportivo era permitida, mas ainda enfrentava muitas dificuldades. O tênis era indicado para as mulheres, como uma forma de passatempo e não como um investimento profissional. 

Já estava acostumada a ser forte e enfrentava os seus desafios no ataque e não somente na defesa, e foi desta maneira que com a sua garra, motivou diversos nomes grandiosos no tênis atual, sendo eles: Gustavo Kuerten, Bia Haddad e João Fonseca. 

O SEU ESTILO DE JOGO

Ela cresceu jogando com o seu irmão e era acostumada a treinar com raquetes para adultos, isso a moldou para o futuro, visto que o seu saque é lembrado pela potência e agressividade.

O seu estilo de jogo era gracioso e elegante, sempre conseguia realizar os seus arremessos de forma precisa. 

Tinha como principais domínios de jogo os slices, lobs e voleios. Garantindo-se sempre nos saques fortes, que fazia o jogo durar menos, pois os aces faz o sacador ganhar uma vantagem.

O tênis é um esporte individual, em que o atleta não tem opção de ajuda técnica ao decorrer da partida, logo é forçado a jogar totalmente sozinho. 

 

A SAÚDE E O SEU LEGADO  

A brasileira passou por diversos problemas de saúde, que se iniciaram em 1961 quando ela teve uma hepatite que durou oito anos de tratamento. Em 1965 fez uma operação do joelho para retirar os meniscos e ficou quatro meses em recuperação, e dois anos depois da operação, ela começou a sentir dores fortes no braço direito, quando foi diagnosticada por “tenista elbow”, uma lesão crônica nos tendões. 

Maria Bueno sendo entrevistada - foto: aberto do Rio de Janeiro.
Maria Bueno sendo entrevistada - foto: aberto do Rio de Janeiro.

 

Maria Bueno manteve a sua conexão com o esporte mesmo com os seus problemas de saúde. Ela tornou-se comentarista da rede britânica BBC e do SporTV/TV Globo. 

Com 78 anos, deixou um lindo legado e uma história que será passada por gerações. Maria Esther Bueno faleceu de câncer no dia 8 de julho de 2018. O câncer iniciou-se na região da boca e depois se espalhou pelo corpo.