No dia 26 de agosto, a equipe do Milwaukee Bucks se recusou a enfrentar a equipe do Orlando Magic pela 5ª rodada dos playoffs da NBA após a polícia americana disparar sete vezes contra Jacob Blake, mais um jovem negro vítima do racismo estrutural no país. Além disso, a equipe do Washington Mystics, time na WNBA, entrou em quadra vestida de branco e com 7 marcas de tiro nas costas de cada atleta.
A decisão do time de Giannis Antetokounmpo e a da franquia de Delle Done não é uma novidade na história do basquete americano, que está diretamente ligada à luta racial nos EUA. Na década de 50, quando apenas brancos jogavam na NBA, o New York Knickerbockers ameaçou deixar a liga caso não fosse permitido que jogadores negros pudessem integrar as franquias. Com esse feito, os Knicks conseguiram a liberação e abriram as portas para que eles entrassem nos times e dominassem o esporte.
Mais tarde, nos anos 60, o lendário Bill Russel, maior campeão da história da liga americana, começou a boicotar alguns jogos como forma de protesto às ofensas racistas sofridas pelos atletas negros durante os jogos. A ação de Russel foi determinante para que a NBA passasse a punir os casos de racismo.
Atualmente, o maior expoente da causa antirracista no basquete é o astro do Los Angeles Lakers, Lebron James. O ala é visto como o porta voz de uma geração de atletas que surge após a era apática de Michael Jordan, que se omitiu em meio aos protestos raciais na década de 90.
Os protestos, antes dentro da quadra, passam a ser fora dela. No hino, nas apresentações e até mesmo nas camisas, tudo é usado para voltar às atenções para o problema maior. Ex-jogador e comentarista da NBA e NBB na TV há dez anos, Danilo Castro valoriza as ações dos jogadores e ainda destaca a habilidade dos atletas de perceberem o poder que hoje eles têm nas mãos.
“As manifestações de atletas com o potencial de mobilização que possuem os astros da NBA são extremamente importantes para a visibilidade do assunto. São pessoas com grande base de fãs, formadores de opinião e que não temem colocar seus posicionamentos.” Castro completou exaltando o boicote dos jogos do dia 26 de agosto. “Se recusaram a jogar uma rodada importantíssima de playoffs e isso por si só, acaba gerando um debate, um pensamento, um estudo, uma mobilização mundial para o assunto.”
Muito mais que a NBA ou a WNBA, o basquete é o grande aliado na causa e é impossível não parar para pensar se essas ações poderiam ou não acontecer no Brasil. O esporte da bola laranja vem crescendo ano após ano no Brasil, que em 2019 registrou 365 horas de transmissão na soma da TV fechada e aberta, o terceiro com mais espaço na televisão no ranking dos esportes. Porém o comentarista acredita que “ainda estamos longe de qualquer tipo de movimento”.
“O basquete brasileiro não faz o suficiente, ainda existe o receio de tomar uma posição, tomar a frente, gerar debates, enfim, existe esse receio. O atleta brasileiro tem dificuldade de se unir enquanto classe para lutar por salários atrasados por exemplo. Esperar uma posição mais firme hoje em dia por causas como a do racismo está longe.”
Aruzha Michaski, recordista de lances livres convertidos na LBF e cestinha da última edição da liga pelo time do Pró-Esporte Basquete, é muito ativa na luta antirracista, mas a sua voz, assim como a de suas companheiras de equipe, não tem tanta força por conta da desvalorização que o basquete feminino sofre.
A amadora recém contratada pelo Galitos de Aveiro, de Portugal, fala sobre o racismo presente na sociedade brasileira e acredita que os atletas devem usar suas posições de destaque para dar visibilidade à causa. “Se a gente se omitir, parece que somos a favor desse tipo de coisa. Devemos falar sobre esses assuntos pois somos espelhos e temos crianças que nos usam de exemplo. Já passei por coisas horríveis quando era mais nova e eu não sabia me defender.”
Michaski acredita que o movimento negro tem ganho cada vez mais voz e pede para que todos os esportes se unam nessa luta para atingir o maior público possível. Ela espera que toda a mobilização gerada pela morte de George Floyd não seja apenas uma onda. “O progresso vai ser aos poucos, mas vamos alcançar o nosso objetivo”, completou positivamente.