Ativista passa 30 horas no mastro de um navio em Londres

Aos 52 anos, engenheiro Eduardo Quartim relembra ações pela ONG Greenpeace na Inglaterra, em 2000
por
Julia Rodrigues Barbosa
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17/05/2023 - 12h

Em cima do armário marrom e branco, uma pasta esmeralda empoeirada guarda recortes de jornais do ano 2000, desgastado pelo tempo, um deles estampa a linha fina: “Ativista do Greenpeace, Eduardo Quartim passa 30 horas no mastro de um navio em Londres para impedir o comércio ilegal de madeira da floresta”.  

Na noite de terça-feira do mesmo ano, Eduardo ligou para sua mulher, Patrícia Rodrigues, que acabara de vê-lo ao vivo no Jornal Nacional. Apesar de estar tranquilizando sua mulher ao telefone, o ativista estava preso por uma corrente no alto do mastro de 30 metros de um navio ancorado no rio Tâmisa, em Londres. Junto de outros seis voluntários da organização ambientalista Greenpeace, Eduardo fazia parte de uma ação em defesa da floresta amazônica na tentativa de impedir que 1.700 toneladas de madeira extraída de forma ilegal da Amazônia fosse desembarcada.  

Nascido em São Paulo e criado em Piracicaba, o Engenheiro Florestal, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ) de início queria cursar Oceanografia no Rio Grande do Sul. Depois de formado, trabalhou durante dois anos na Melhoramentos, encarregado de supervisionar a fabricação de madeira reflorestada para embalagens. 

Foi como chefe de produção de serraria que meu pai conheceu minha mãe, Patrícia, a mulher que assistia em pânico o Jornal Nacional de terça-feira. Se não lhes falha a memória, estão juntos desde 1994 e completam cerca de 28 anos de união.  

Entre a saída da Melhoramentos e sua chegada ao Greenpeace, o ativista passou um ano nos Estados Unidos, trabalhando com a World Forest Institute em Portland. De volta ao Brasil, Eduardo foi selecionado para participar dos projetos em defesa da Amazônia como gerente de campanha, e quando soube que precisavam de um voluntário brasileiro em uma ação no porto inglês logo se prontificou. 

Hoje, aos 52 anos, Eduardo rememora: “Quando eu saí do Brasil eu levei um sapato de couro bonito, uma calça bacana e um terno. Eu achei que eu ia só falar com a imprensa representando o Greenpeace, mas na hora que eu cheguei lá o cara olhou pro meu pé e me mandou direto pra loja comprar bota, canivete e calça de escalada. Me perguntaram se eu ia pra ação ou ficaria no chão com a assessoria de imprensa. Aqui no Brasil eu só fazia ação, uma atrás da outra, então eu falei ‘Meu, eu vou pra ação’”.  

Na mesma página, embaixo e à direita, acompanhada por registros da época, a frase “Engenheiro bom de briga” chama a atenção. O jornal se refere às outras ações do ativista no Greenpeace meses antes. Em Brasília, dezembro de 1999, vestindo terno e gravata, Eduardo levou uma motosserra para protestar contra a reforma do Código Florestal e, em 9 de maio de 2000, em mais uma ação contra a votação do mesmo Código, o engenheiro carregou pó de serra à Confederação Nacional de Agricultura (CNA) e, no dia seguinte, amordaçou a boca depois de ser impedido de acompanhar a votação no plenário da Câmara. 

Eduardo relembra: “Eu me envolvi com várias campanhas. Estive na de transgênicos, proteção às baleias, me envolvi também muito com a questão da Amazônia em vários aspectos. Fiz ações em Londres, Brasília, Rio de Janeiro, Dinamarca e cheguei até a conhecer a Rússia”. 

“Você faria alguma ação pelo Greenpeace hoje?” Pergunto. “Talvez como voluntário em uma coisa ou outra, mas me envolver da forma que eu me envolvi, me dispondo a ser preso e ter todas as sanções legais, eu acho que pensaria duas vezes, mas na época faria tudo de novo. Eu me orgulho” afirma o entrevistado. 

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