Por Rafaela Reis Serra
Conforme as décadas passam e as tecnologias vão incrementando a vida do ser humano, participando cada vez mais de seu cotidiano, os museus, com suas exposições, utilizam de novas formas de interatividade para atrair o público. Não só isso, mas também como uma nova forma de fazer arte.
É o caso do Museu da Língua Portuguesa (MLP), reaberto após o incêndio de 2015. Desde sua concepção, em 2006, o museu utiliza de telas touch screen, projeções e ambientes sonoros como forma de interação. “Há uma escolha de conteúdos, cores, informações, arte, história, enfim, que juntos criam a imersão e caracterizam a vivência do visitante no museu.”, comenta Camila Aderaldo, coordenadora do Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa.
Ao se utilizar da palavra ‘tecnologia’, passa-se a impressão de que somente os conhecimentos atuais são relevados. “A tecnologia sempre esteve associada à arte de uma maneira muito íntima. Um pincel já é uma tecnologia. Como são recursos antigos, acabamos naturalizando e tendemos a achar que o que é tecnologia é o mais recente: realidade aumentada, virtual, as coisas que estão mudando o contexto tecnológico no qual estamos envolvidos.”, explica Marcus Vinicius Fainer Bastos, o artista, curador e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Surge uma dúvida: a grande quantidade de aparatos tecnológicos nos museus é um problema? O professor vê com bons olhos a aproximação da arte contemporânea com as novas possibilidades museológicas que vão aparecendo conforme a tecnologia vai desenvolvendo. “Acho que é um passo num certo sentido coerente com essa relação que a arte sempre estabelece com a ciência e com a tecnologia. Existe uma potencialidade de democratização muito grande, o espaço do museu não fica mais único e exclusivo da arte” e explana sobre a possibilidade da visita virtual a lugares que muitas pessoas não poderiam visitar, devido às condições financeiras de grande parte da população mundial.
Sobre a questão de exposições apenas com mecanismos tecnológicos, o professor comenta que a exposição deve ser adequada à natureza da obra que ela está apresentando. “(...) Uma exposição de pintura precisa ter os quadros presentes, não adianta criar um aparato super tecnológico que não tenha nada a ver com aquela situação. Eu acho que a imersão e essas novas possibilidades vieram pra ficar, devem ser usadas de formas adequadas, não o tempo inteiro, mas com obras que pedem isso ou de forma a complementar as obras nos formatos originais delas” e complementa dizendo que essas novas perspectivas não devem se sobrepor à linguagem do artista, senão vira “uma solução de design muito complexa.”
No caso do Museu da Língua Portuguesa a experiência da imersão e de diversos aparatos tecnológicos parece ter dado certo. O museu promove uma experiência muito rica com a tecnologia atual: auditório com audiovisual espetacular; salas com vídeos na vertical de depoimentos de diferentes pessoas falando a língua portuguesa como crianças, imigrantes, trabalhadores de diversas áreas, pessoas cantando e o regionalismo que a língua portuguesa nos oferece, no ambiente “Falares”.
No dia da visita ao museu, tenha acabado a luz por cerca de 30 minutos e interrompido parte da experiência de imersão na espécie de domo existente do terceiro andar chamado Praça da Língua - que já havia anteriormente ao incêndio e foi mantido - permitindo um médio aproveitamento no segundo andar por estar muito escuro: espaço com uma linha do tempo do idioma em que há muito textos que precisavam de iluminação e também palavras em telas touch screen, as quais apresentam termos que foram incorporados de outros países em nossa língua.
Após o tempo de queda de energia, pôde-se novamente desfrutar das atividades. Algo que, nem mesmo o maior avanço tecnológico, conseguiu impedir. Além da interatividade, o museu oferece objetos materiais na experiência “Português do Brasil”, algo que não havia antes: como uma tigela tupinambá de cerca do ano 1500 e uma escultura Nkisi original, revela a coordenadora do Centro de Referência do MLP.
Para Aderaldo, a quantidade de tecnologia presente e a imersão é utilizada no museu desde 2006 e tem sido sua marca desde então. "Este tem sido um dos aspectos que não apenas envolve positivamente o visitante na experiência da visita, mas também atrai bastante o público”, afirma.
Qual é o futuro da arte?
Para Fainer, é complicado prever um futuro muito distante, mas, para ele, a arte vai caminhar no sentido do multisenssório: uma importância cada vez menor do olhar e uma importância cada vez maior da escuta, toque, cheiro. “Todas as linguagens que escapam dessa centralidade da visão, que foi algo que marcou muito a modernidade, estão no horizonte da arte mais recente. Essa exploração por outras sensorialidades é por onde a arte deve caminhar”, finaliza o curador.