Aroeira: “Na luta contra a censura, temos que ir com tudo”

Renato Aroeira conversa com alunos da PUC-SP sobre seu trabalho como cartunista.
por
Laura Mello
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25/03/2021 - 12h

Em conversa mediada pelo jornalista e professor Aldo Quiroga, o chargista Renato Aroeira relata como se sentiu ao receber ameaças e intimações sobre suas charges, principalmente a chamada “Crime Continuado”, pela qual o Ministro da Justiça solicitou à Polícia Federal uma abertura de inquérito por crime contra a segurança nacional. Na charge em questão, o cartunista desenhou a cruz vermelha com extensões em preto, tornando-a uma suástica. Ao lado, o presidente da república Jair Bolsonaro segura uma lata de tinta preta e um pincel dizendo ‘Bora invadir outro?’. Esta charge foi criada após o presidente incitar apoiadores a invadirem hospitais para confirmar se haviam pessoas contaminadas com a Covid-19. Sobre a produção da charge, o autor diz: “são símbolos muito fortes. Eu usei o símbolo do bem por excelência que é a Cruz Vermelha com a ideia da Suástica, o mal supremo. Olha, se o Presidente da República chama a sua massa apoiadora a invadir hospitais, a gente só vê essas coisas no fascismo.” 

O desenhista lembra que recebeu a notícia do pedido de investigação através de amigos e conhecidos que mandavam mensagens de solidariedade. “Recebi algumas mensagens que diziam ‘solidariedade’ ou ‘estamos com você’, mas não estava entendendo o porquê. Até que amigos me mandaram o tweet do Ministério da Justiça sobre o inquérito.” disse o cartunista. “Senti muito medo, até parei de anunciar onde estaria tocando (saxofone).” A notificação de investigação deu início a uma grande movimentação nas redes sociais que se denominou “Charge Continuada”, na qual outros cartunistas e fãs fizeram mais de quatrocentos desenhos e releituras da charge, postados nas redes sociais a fim de demonstrar apoio ao autor. “Na luta contra a censura, contra o fascismo, temos que ir com tudo que temos na mão”, responde Aroeira sobre o próximo passo nessa batalha. “O outro lado não vai descansar. Temos uma raquete na mão e 14 bolas para devolver, então acho que a gente tem que ir com tudo.”. 

Sobre o papel social de suas charges e o que o cartunista espera ao publicá-las, ele diz que espera que as pessoas se divirtam, mas que sintam o gosto amargo da crítica. “Não espero que uma charge resolva nenhum problema, nem atice nada ou gere revolução”, disse, “Eu posso provocar uma catarse ou uma irritação, mas, no geral, nem de longe é o chargista quem muda o mundo. Quem muda o mundo é quem trabalha, quem toma decisões, quem descobre uma vacina. Quem muda o mundo é gente mais ou menos nessa linha.”.  

O chargista ainda fala sobre a diferença entre fazer charges 30 anos atrás e nos dias atuais. “Antigamente, eu lia o jornal e escolhia um fato para desenhar e quatro dias depois ele era publicado. Agora, eu fiz quatro charges durante o julgamento da parcialidade do Moro, e assim que terminou, eu soube como foi o pronunciamento do Bolsonaro e imediatamente fiz e postei outra charge.” O profissional conta ainda que, antigamente, recebia cartas com comentários, críticas negativas ou positivas, uma semana após a publicação da charge. Com o tempo, começou a receber e-mails com os mesmos conteúdos e, nos dias atuais, recebe comentários instantâneos em redes sociais como o Instagram. 

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