As apostas certeiras de um visionário de Jundiaí

'Quando penso em economia na esfera pessoal, é impossível não lembrar do meu avô', diz Beatriz Pugliese
por
Beatriz Pugliese
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30/06/2021 - 12h
Beatriz Pugliese com o avô Franco Bronzeri. Arquivo pessoal.
Arquivo pessoal

Quando penso em economia na esfera pessoal, é impossível não lembrar do meu avô. Para mim, meu avô Santo (“é Santo, mas não faz milagre”, como ele brinca desde sempre) foi o início da ascensão econômica da minha família. Para contextualizar a história, vou contar um pouco da vida do meu avô e você, meu caro leitor, vai entender por que esse personagem é tão importante na minha vida. 

Santo Bronzeri nasceu em 14 de agosto de 1942 em Jundiaí, interior de São Paulo. Foi o caçula de nove irmãos e sua gestação foi escondida por sua mãe até os oito meses. Após nascer prematuro, Santo foi entregue para ser cuidado pela sua irmã mais velha. Foi essa irmã (quase mãe) que acreditou na capacidade de sucesso de meu avô: “Ele vai vingar” - ela dizia. E estava certa!

Ainda adolescente, Santo trabalhava como barbeiro. Foi durante um dia de trabalho que ele conheceu uma jovem linda, que mais tarde se tornaria minha avó. Entretanto, sua ambição era demasiada para se contentar com sua função de barbeiro. Por isso, ainda em seus vinte e poucos anos, ele juntou suas economias e comprou um bar. Mas não qualquer bar. Seu olhar de empreendedor lhe deu a brilhante ideia de comprar um bar do lado da igreja. Dessa forma, seu negócio se tornou “o point” principal depois das missas. Não havia família que não parasse no bar do Santo para comprar um sorvete no domingo. 

Mas o sucesso do bar ainda não era o suficiente. Meu avô percebeu, de maneira muito perspicaz, o bairro crescendo. Rapidamente, ele comprou um terreno e construiu uma mercearia. Poucos anos depois, seu comércio estava no centro do bairro e todos conheciam e frequentavam o mercado Pegue Bem.

Infelizmente, junto com o lucro vinham algumas questões negativas. Quando se tem o próprio negócio, não existem férias nem descanso. Meu avô trabalhava de domingo a domingo, acordava de madrugada para abrir a padaria e dormia tarde da noite para fechar o caixa. Ainda bem que ele tinha, ao seu lado, uma mulher excepcional, como ajudante e como mulher (e uma avó melhor ainda, isso posso afirmar). 

Santo também foi alvo de diversos assaltos e chegou a passar horas como refém em um deles. Entretanto, o assalto mais dolorido foi quando descobriu que estava sendo roubado pelo seu sócio e irmão. Mesmo com grande tristeza e decepção, Santo separou a sociedade e continuou seu negócio por alguns anos, até receber a notícia de que ia se tornar avô. Foi aí que ele fechou as portas do mercado e prometeu que, a partir de então, ia se dedicar 100% à sua família. Meu avô nunca mais colocou um relógio no pulso, simbolizando que, agora, ele acorda a hora que quiser e dorme a hora que quiser. 

Digo com todo o orgulho que cabe em mim: meu avô foi um visionário. Ele teve ideias brilhantes e soube executá-las de maneira ainda mais brilhante. Com trabalho duro, Santo construiu um patrimônio impressionante, que hoje lhe permite ter uma vida confortável. 

Entretanto, além de suas conquistas profissionais, meu avô também se preocupou em garantir que a situação econômica da família melhorasse, ainda mais, nas próximas gerações. Por isso, ele não economizou na educação de sua única filha. Minha mãe estudou nos melhores colégios da cidade e se formou em piano no Conservatório de Jundiaí. Na hora dela entrar para a faculdade, meu avô deixou bem claro: “Eu não entendo de estudo, então o que você escolher eu te apoio”. Minha mãe se formou em psicologia pela PUC Campinas e se casou com meu pai, formado em engenharia civil pela mesma universidade. 

Hoje, meus pais são bem-sucedidos nas profissões que escolheram e estão construindo um patrimônio ainda maior que o do meu avô. Mas eu sei que minha família está onde está porque um dia o jovem ambicioso decidiu usar seus trocados para abrir seu próprio negócio e resolveu não sossegar até ascender economicamente.

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