Nascida em 1932, no interior de São Paulo em Irapuã, Animpha Oliveira Prado, cresceu com uma visão da época, baseada no senso comum, de que separação seria algo inadmissível, e que mesmo com um matrimônio infeliz deveria suportá-lo. Aos 25 anos a então datilógrafa casou-se com um militar, porém a relação de ambos foi mudando, foi quando ela descobrira a traição, e no ano de 1972, seu marido pediu desquite.
"Quando eu falo as pessoas acham graça, ninguém acredita" diz Animpha, 90, ao falar que ainda acredita no Saci Pererê, lendas como essa eram comuns na fazenda onde Animpha cresceu. Outra crença que está com ela até hoje, é a do casamento duradouro e feliz, que ela não teve. Ela cresceu com a ideia de que um casamento de sucesso deveria ser longo, e outras mentalidades da época que hoje são ultrapassadas, porém ainda persistem na sociedade.
Animpha em 1946, com 14 anos, se mudou para a capital paulista, em busca de emprego e melhores condições de estudo, lá começou a trabalhar como datilógrafa em algumas empresas, e também onde conheceu o suposto amor da sua vida, Lauro que era um policial militar, e trabalhava perto de onde ela morava.
Quando criança, seu pai contava que quando os cavalos corriam muito a noite era o Saci que estava por perto, ela fala que quando via os animais de manhã, eles estavam com a crina trançada, com um nó no rabo e suados. Outra história que ela se lembra, seria do seu vizinho que dizia se tornar lobisomem em dias de lua cheia, estas lendas e outras fizeram parte da sua vida, inclusive o da “família perfeita”.
Ao se casar com Lauro aos 25 anos, Animpha quis formar uma família grande, sua primeira filha Laura, morreu com poucos meses de vida, devido a uma infecção no umbigo. Foi um grande impacto para a família que estava começando a se formar, alguns anos depois eles tiveram outra criança, Márcia. Animpha disse que todos os viam como um casal perfeito, ela também tinha essa visão, eles tinham planos de ter mais filhos, porém tudo mudou quando Lauro conheceu “a outra” como Animpha se refere à amante do seu marido.
“Foi muito difícil” comenta sobre o desquite, que em 1972 era a única opção, já que não havia divórcio no Brasil, mesmo assim continuaram morando juntos por mais cinco anos. Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo já que na época não era comum o desquite. Apesar das dificuldades, Animpha disse que recebeu o apoio dos seus amigos, mas também contou que só avisou seus familiares sobre o ocorrido após a separação, e muitos não acreditaram, pois não parecia ter problemas entre o casal.
Nos anos 80, eles se divorciam, pra ela foi bem difícil reviver a separação, “ainda machuca um pouco”, mesmo depois de ter se apaixonado por outra pessoa, isso ainda é um tópico sensível, tudo isso, pois a sociedade e a religião cristã, que tem influência no país, criou o “folclore” do casamento perfeito que é aquele que só se casa uma vez e que não há problemas na relação, e se houver você deve ignorá-los, para Animpha todas essas lendas são verdades, desde o Saci e lobisomem à essa instituição do casamento criada por uma sociedade cristã e conservadora, e mesmo depois de muitos anos ela ainda sente por não ter conquistado isso.