Andrea Dip revela detalhes das investigações dos abusos sexuais cometidos por Samuel Klein

Muitos anos de exploração foram descobertos e investigados pela Agência Pública e a repórter conta como se deu a investigação
por
Luiza Mazzer
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25/05/2021 - 12h

 

O cuidado com a “re-vitimização” das mulheres foi um dos principais temas da conversa da jornalista Andrea Dip com os alunos do curso de Jornalismo da PUC-SP. Dip, repórter e editora da Agência Pública de Jornalismo Investigativo coordenou a matéria que revelou as acusações de abusos sexuais praticados por Samuel Klein, criador das Casas Bahia e contou aos alunos detalhes de como foram realizadas as investigações.

Tudo começou quando uma fonte confiável da Agência falou sobre as denúncias de abuso sexual de Saul Klein, filho de Samuel. Os repórteres então foram em busca de processos judiciais para fundamentar a investigação, e, nessa busca, acabaram encontrando diversos processos contra Samuel Klein, que até então nunca haviam saído na mídia. Eram diversas denúncias de abusos sexuais que haviam sido arquivadas, a maior parte deles contra menores de idade. Samuel morreu em 2014 sem nunca ter sido julgado pelos crimes cometidos.

As investigações foram se aprofundando e conseguiram o nome de 30 vítimas, das quais 10 concordaram em dar entrevistas. E assim, através dos relatos dessas mulheres conseguiram detalhes sobre os abusos cometidos por Klein durante grande parte de sua vida. Receberam diversos vídeos e imagens, muitos dos quais não divulgaram, por tratarem de conteúdo sensível que poderia vir a atrair mais abusadores. Conversaram também com funcionários de Klein e pessoas próximas à família, que afirmaram ter conhecimento sobre os abusos cometidos.

Dip reforçou a importância do cuidado dos repórteres ao ouvir os relatos das mulheres e fazerem perguntas, por tratarem de situações muito delicadas e que na maior parte das vezes envolviam traumas profundos. Para isso, deu um treinamento para os envolvidos na reportagem sobre os cuidados ao aproximar-se das vítimas e não tornar uma situação invasiva, assim como evitar certas expressões, como “abuso sexual” ou “estupro”. Com isso, a equipe foi ganhando mais confiança das mulheres, que passaram a entender que eles queriam ajudar e estavam sendo cuidadosos nesse processo, e chegaram a indicar outras vítimas que poderiam dar mais relatos e informações.

“Todo mundo sabia”, foi o que ouviram de pessoas que trabalhavam para Klein. Aos poucos foram descobrindo que os casos de abuso, que muitas vezes ocorriam dentro da sede das casas Bahia, na Grande São Paulo, eram de conhecimento dos funcionários e tratados com normalidade.

Ao ser questionada sobre o porquê das denúncias contra Samuel Klein não terem sido divulgadas na mídia, como ocorreu com João de Deus, por se tratarem de situações de abuso similares, Dip afirma que “João de Deus não tinha anúncios milionários na grande mídia”. Esse seria o principal motivo dos abusos não terem aparecido imprensa, pois as Casas Bahia sempre foi um dos maiores anunciantes televisivos do Brasil e de certo havia muito dinheiro envolvido, e essa divulgação poderia acarretar em grandes prejuízos para as emissoras.

Em relação às vítimas, muitas delas receberam acordos, com valores altíssimos e algumas receberam até imóveis para comprar seu silêncio. Por estarem em situação de vulnerabilidade econômica e social, acabavam por aceitar os acordos de silenciamento, desacreditando que conseguiriam ganhar na justiça contra um homem tão poderoso como Samuel.

 

Confira trechos da conversa a seguir: [inserir link do youtube]

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