Análise: O que fica da "quase" classificação do Brasil no Catar ?

Seleção Brasileira perdeu nos pênaltis para a Croácia, mas a derrota não resume o desempenho ao longo da competição.
por
Luan Leão
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10/12/2022 - 12h

Em todas as edições de Copa do Mundo que o Brasil perde ou é eliminado, imediatamente passamos a buscar os culpados. O volante que não fez a falta para matar o contra-ataque. O técnico que escalou mal e demorou a mexer. O jogador que foi expulso em um lance que não havia necessidade. Mas no Catar o culpado não é tão aparente. Em todas as outras eliminações, ainda que discutível, era mais aparente os erros. No jogo contra a Croácia, talvez não. 

Tite comandou todo o ciclo pré-Copa, algo que não aconteceu em outras edições. Teve ainda a experiência de sentir o gosto da Copa do Mundo em 2018, quando o Brasil perdeu para a Bélgica, também nas quartas de final. Nesse ciclo, foram inúmeros os jogadores testados. Apesar de um discurso de meritocracia, Tite tinha suas preferências com relação a alguns jogadores. Ele tinha assim como eu e você teríamos se estivéssemos no lugar dele. 

A seleção colecionou números admiráveis sob o comando de Tite. Campanha história nas eliminatórias, título da Copa América em 2019. Mais que os números, as atuações, salvo algumas exceções, foram boas, convincentes, dignas de elogios pela torcida. O trabalho de Tite se mostrou consistente e capaz de disputar com qualquer outra seleção, independente do continente. 

E foi o que vimos contra a Croácia. O Brasil não se mostrou apático, ou taticamente inferior ao adversário. Adversário este que é a atual vice-campeã mundial, e com grandes jogadores. A seleção parecia paciente e consciente do que precisava fazer e como precisava fazer. Mas em uma fase final de Copa do Mundo, uma seleção que quer a vitória e a classificação, não pode empilhar chances perdidas na cara do goleiro. Mesmo que o goleiro esteja em uma noite inspirada. 

Seleção brasileira
Jogadores brasileiros ficaram abatidos no final da disputa por pênaltis.
Foto: Matthew Childs / Reuters

A seleção Brasileira, desde a primeira fase, mostrava dificuldades de converter seu domínio técnico e tático em gols. Foi assim nas vitórias contra a Sérvia e contra Suíça, e também na derrota para Camarões. A goleada contra a Coreia do Sul foi ponto fora da curva. Mas não converter em gols as chances criadas esbarra naquilo que mais sabemos reconhecer que essa seleção tem: qualidade técnica e individual. 

Os jogadores dessa geração brilham os olhos do mundo com seus dribles, irreverência, o jeito brasileiro de jogar. Talvez tenha faltado um pouco mais de irreverência com a bola rolando. Mais calma para definir melhor as jogadas. Mais serenidade para entender que antes da dancinha tem que ter o gol. 

Ganhando o jogo e faltando apenas três minutos para garantir a classificação, o time não pode se desorganizar defensivamente. Logo a seleção que, com Tite, ficou conhecida por sofrer poucos gols. Nesta Copa foram apenas três gols sofridos, em raras oportunidades concedidas ao adversário por mérito da seleção. Este último foi fatal. Não para cravar a eliminação, mas para derrubar a moral. A seleção foi para os pênaltis sentida. Como Vinicius Junior descreveu em seu post após o jogo em uma rede social, os jogadores sabiam o quão perto estavam. Por um detalhe.

E aqui está o principal culpado da eliminação brasileira: o detalhe. O detalhe de uma jogada em que os jogadores não se entenderam no posicionamento. O detalhe de chances perdidas. O detalhe de um treinador que pareceu sentir demais o gol. Sentir tanto a ponto de não conseguir dar uma última palavra aos jogadores antes das cobranças de pênalti. Detalhe de uma seleção que não levou psicóloga por opção de seu comandante.

Seleção brasileira
Brasil perdeu duas cobranças de pênalti. Foto: Dylan Martínez / Reuters 

Esses detalhes, que não apontam necessariamente para um nome ou pessoa, decidem campeonatos. O Brasil sabe disso, já levantou a taça cinco vezes. Sabe que em uma Copa do Mundo, os detalhes selam o destino de uma seleção. Mas o fato de apontar para diferentes direções, os detalhes podem parecer que a seleção fez um péssimo ciclo, ou foi displicente durante o torneio. Um erro pensar assim. 

A seleção teve uma boa preparação no ciclo desta Copa. Fez bons jogos no Catar. Os principais jogadores tiveram bons momentos. Mas fica a lição dos detalhes que custam a eliminação. Detalhes que estão sob nosso controle. Erros de arbitragem, bolas desviadas ou na trave não estão, mas algumas escolhas e decisões cabem apenas a nós.

Para 2026, no ciclo que começa quando a ferida dessa eliminação não estiver tão aberta e exposta, a atenção aos detalhes será fundamental. O primeiro detalhe será a escolha do técnico pela CBF. Depois, entender que temos um time, um modelo de jogo e total capacidade de competir com qualquer seleção. Também será necessário restabelecer lideranças ativas no plantel, capazes de dar segurança e tranquilidade para os mais jovens.

O caminho até a Copa do Mundo em 2026, buscando o Hexa, precisará de atenção aos detalhes.