Amanda e Charles vencem em noite mágica no Canadá!

Inspirados, brasileiros e canadenses saem por cima com vitórias importantes e o apoio da torcida.
por
Guilherme Gastaldi
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18/06/2023 - 12h

Em um evento negligenciado por parte dos fãs na internet, os resultados das lutas, somados à atmosfera eletrizante da Rogers Arena em Vancouver, Canadá, culminaram em uma noite memorável e inesquecível. Na luta principal, após dominar Irene Aldana por cinco rounds, Amanda Nunes manteve seu cinturão dos pesos galos e logo em seguida, anunciou a sua aposentadoria do esporte. No coevento da noite, Charles Oliveira derrotou Beneil Dariush com um nocaute explosivo no primeiro round, o impulsionando para uma nova disputa pelo cinturão. Além disso, em solo canadense, os seis lutadores que representavam o país venceram suas respectivas lutas, colocando novamente o Canadá no mapa do MMA.

 

Amanda Nunes chora sobre os seus dois cinturões, logo após ter anunciado a sua aposentadoria do esporte. (Reprodução / Twitter: @ufc)
Amanda Nunes chora sobre os seus dois cinturões, logo após ter anunciado a sua aposentadoria do esporte. (Reprodução / Twitter: @ufc) 

 

"And Still Forever!"

Em cinco rounds de completa dominância, Amanda Nunes derrotou Irene Aldana e defendeu seu cinturão dos pesos galos com uma facilidade surpreendente. Muitos chegaram a duvidar da brasileira, inclusive questionando como responderia ao boxe “afiado” da sua adversária, mas no final, Amanda resolveu trocar com a mexicana, mostrando que de fato era a lutadora superior. Com um jab potente somado a combinações de golpes, conseguiu se defender bem e impor um volume sufocante, impossibilitando qualquer grande avanço de Aldana. Além da trocação em pé, no chão foi total controle da Leoa, que terminou o combate com impressionantes 142 golpes significativos.

Ao final da luta, Amanda Nunes encerrou sua carreira inigualável, anunciando a sua aposentadoria do esporte. No microfone, ela chamou um cutman para cortar suas luvas, que foram colocadas no centro do octógono junto de seus dois cinturões. A brasileira deixa para trás um legado extraordinário, tendo vencido as melhores lutadoras do mundo, com uma dominância e imposição poucas vezes vistas na história da organização. Com a aposentadoria de Amanda, o Brasil oficialmente fica sem nenhum campeão no UFC e a Leoa não perdeu a grande oportunidade de passar um recado, “lutadores brasileiros, arrumem suas coisas e venham buscar o cinturão, eu estou indo embora”.

 

Amanda comemora sua vitória e aposentadoria com sua filha Raegan. (Reprodução / Twitter: @ufc)
Amanda comemora sua vitória e aposentadoria com sua filha Raegan. (Reprodução / Twitter: @ufc) 

 

A Maior de Todos os Tempos

Nascida em Pojuca, Bahia, Amanda Nunes começou sua carreira no MMA em 2008. Durante esses 15 anos dentro do esporte, a brasileira finaliza com um cartel de 23 vitórias e 5 derrotas, com triunfos sobre algumas das melhores lutadoras da história e recordes absolutos do UFC feminino: 

  • Mais vitórias (16);
  • Mais vitórias consecutivas (12);
  • Mais vitórias em lutas pelo cinturão (11);
  • Mais finalizações (9).

Com um começo espetacular na organização, Amanda derrotou nomes como Germaine de Randamie, Shayna Baszler, Sara McMann e Valentina Shevchenko, sendo catapultada a sua primeira disputa de título dos pesos galos femininos no UFC 200. No confronto, a brasileira finalizou a então campeã, Miesha Tate, com um mata-leão no primeiro round, conquistando o cinturão da divisão. Em seu combate seguinte, a Leoa recepcionou a grande estrela do MMA feminino, Ronda Rousey, que estava há mais de um ano da organização após a derrota para Holly Holm. Na ocasião, 48 segundos foram o suficiente para encerrar de vez a passagem de Ronda pelo esporte.

Amanda ainda derrotou Valentina Shevchenko, uma das lutadoras mais condecoradas da história, pela segunda vez no UFC 215 e Raquel Pennington no UFC 224, mas foi em dezembro de 2018 o maior momento da carreira da brasileira, quando ela desafiou Cris Cyborg pelo cinturão do peso pena feminino, em busca do status de dupla campeã. Em apenas 51 segundos, a Leoa nocauteou a lutadora mais temida do mundo naquele momento e a grande favorita para a luta, fazendo assim, história na organização ao se tornar a primeira e única mulher a carregar dois cinturões simultaneamente no UFC.

Após o embate com a Cyborg, derrotou Holly Holm, Germaine de Randamie (novamente), Felicia Spencer e Megan Anderson, todas elas com a facilidade e dominância que o público do esporte já estava acostumado, até que no UFC 269, a brasileira se deparou com Julianna Peña. Considerada uma das maiores zebras da história do esporte, Peña finalizou Amanda e chocou o mundo, acabando com a sequência de 12 vitórias consecutivas da brasileira. Entretanto, na revanche entre as duas lutadoras, Amanda Nunes dominou completamente os cinco rounds, concretizando três knockdowns e mostrando para o mundo inteiro que sua derrota havia sido um mero deslize e que ela é de fato a maior lutadora de todos os tempos.

 

Os dois cinturões e a luva de Amanda colocados no centro do octógono. (Reprodução / Twitter: @ufc)
Os dois cinturões e a luva de Amanda colocados no centro do octógono. (Reprodução / Twitter: @ufc) 

 

O futuro das divisões

Com a aposentadoria de Amanda Nunes, os cinturões peso galo e pena feminino acabam sendo desocupados, ficando sem um dono. No caso da divisão dos galos, as escolhas não parecem ser tão difíceis assim. Por mais que haja rumores de que Erin Blanchfield pense em subir de divisão para lutar pelo cinturão, o cenário mais provável é a realização do confronto entre Julianna Peña e Raquel Pennington. Peña é a única lutadora da categoria que conseguiu vencer Amanda, então deve ser uma das opções claras, assim como Raquel, que foi a lutadora reserva para o confronto de Amanda Nunes e Irene Aldana. Entretanto, as coisas não são tão simples na divisão dos penas.

Nos últimos anos, as brasileiras Cris Cyborg e Amanda Nunes sustentaram a divisão dos penas feminino em suas costas, no entanto, como ambas as lutadoras não fazem mais parte da organização, a manutenção da categoria se torna praticamente impossível. Com a falta de lutadoras de alto nível, não existem pretendentes reais ao cinturão, inclusive, essa falta de talento pode ser observada pelo fato dos penas feminino ser a única categoria a nunca ter tido um ranking oficial. Na coletiva de imprensa pós-evento, Dana White, foi perguntado se o rumo da divisão seria de fato o seu encerramento: “a resposta é provavelmente sim, quer dizer, não tomo essas decisões logo após uma luta, mas faz sentido”, disse o presidente do UFC.

 

Ranking oficial do UFC, dos pesos galo e pena feminino. (Reprodução: https://www.ufc.com.br/rankings)
Ranking oficial do UFC, dos pesos galo e pena feminino. (Reprodução: https://www.ufc.com.br/rankings) 

 

O Problema da Divisão

No co-evento principal, o brasileiro Charles “Do Bronx” Oliveira e o norte-americano Beneil Dariush entregaram para os fãs um duelo intenso e eletrizante, que resultou na vitória do brasileiro por nocaute técnico ainda no primeiro round. Com a vitória, Charles se tornou o primeiro lutador da história do UFC a chegar a 20 finalizações, encerrando do outro lado, a sequência impressionante de oito vitórias consecutivas do norte-americano. 

Assim que ambos os lutadores entraram dentro do octógono, os fãs do esporte já perceberam estar diante de um clássico instantâneo. Logo de início, Charles tentou levar Beneil para o chão, mas o norte-americano acabou caindo sobre o brasileiro. De costas para o chão, Charles conseguiu, com tranquilidade, anular qualquer ofensiva do adversário e depois de alguns minutos nessa posição, se levantou sem grandes problemas. Poucos segundos depois, já em pé, conectou um chute de direita perfeito na cabeça de Dariush e apartir daí, acertou socos afiados que derrubaram Benny. Com o adversário no chão, a pressão era imensa e com uma sequência de golpes pesados, foi questão de tempo até o árbitro parar a luta, concretizando a vitória por nocaute técnico no primeiro round.

 

Charles comemorando sua vitória. (Reprodução / Twitter: @ufc)
Charles comemorando sua vitória no UFC 289. (Reprodução / Twitter: @ufc) 

 

Ao longo da semana, usuários das redes sociais duvidaram bastante da capacidade de Charles, curiosos para ver como ele iria se recuperar de uma derrota devastadora como a que sofreu para Islam Makhachev no UFC 280. Inclusive, nesse período, foi levantado diversas vezes o retrospecto do brasileiro em solo candadense, que não era nenhum pouco favorável. Do Bronx já havia lutado quatro vezes no Canadá, entretanto, saiu derrotado em todos os combates: Jim Miller (2010), Cub Swanson (2012), Max Holloway (2015) e Anthony Pettis (2016). 

Com um estilo de luta intrigante e divertido de se acompanhar, Charles Oliveira rapidamente se tornou uma das figuras mais populares da organização e acumula hoje milhões de fãs pelo mundo todo. Na coletiva de imprensa pós-evento, Charles foi perguntado sobre a recepção do povo canadense e o apoio que tem recebido sempre que luta fora do Brasil: “é como se fosse um filme, a maioria das minhas derrotas foram aqui e você ser aplaudido de pé pela torcida, parecia que eu estava dentro de uma comunidade, parecia que eu estava no Brasil. Isso são coisas que eu nunca vou esquecer”.

 

Charles “do Bronx” chora em cima da grade do octógono, emocionado com sua vitória. (DARRYL DYCK / LaPresse)
Charles “do Bronx” chora em cima da grade do octógono, emocionado com sua vitória. (DARRYL DYCK / LaPresse)

 

Com uma vitória impressionante, Charles “Do Bronx” se torna o principal desafiante a disputar o título dos pesos leves. Em outubro, no UFC 294, a organização voltará para a Etihad Arena em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, praticamente um ano depois do fatídico UFC 280 e deve contar com o campeão russo, Islam Makhachev, na luta principal do evento. Sendo assim, com uma performance irretocável e um apelo gigantesco por parte do público, tanto presencialmente quanto nas redes sociais, as chances do brasileiro conseguir a sua tão sonhada revanche são grandes.

Inclusive, na coletiva de imprensa pós-evento, Dana White, foi perguntado sobre o possível reencontro entre os lutadores. Ele respondeu dizendo que diversas questões ainda precisam ser levadas em conta para definir a próxima disputa de cinturão, mas concluiu sua fala expressando a sua vontade de ver novamente esse embate, “essa luta faz sentido, essa é a luta que deveria acontecer e estou ansioso para vê-la novamente”.

 

Após a luta, Islam Makhachev e Charles Oliveira se provocaram em suas redes sociais de maneira “amistosa”.  (Reprodução / Twitter: @CharlesDoBronxs)
Após a luta, Islam Makhachev e Charles Oliveira se provocaram em suas redes sociais de maneira “amistosa”. (Reprodução / Twitter: @CharlesDoBronxs)

 

Canadá: 6 x 0

No dia 14 de setembro de 2019, Donald Cerrone e Justin Gaethje se enfrentaram no UFC Fight Night realizado em Vancouver, Canadá. Agora, após quase quatro anos, a organização finalmente decidiu retornar ao país e mesmo após todo esse tempo fora, os fãs entregaram uma atmosfera eletrizante na Rogers Arena. Mas é claro, um importante fator favoreceu o “bom humor” do público ali presente: todos os lutadores canadenses do card venceram suas respectivas lutas.

Ao todo, foram seis lutadores presentes no evento, Diana Belbita, Kyle Nelson, Aiemann Zahabi, Jasmine Jasudavicius, Marc-André Barriault e Mike Malott. Para um país que já teve lutadores como Mark Hominick,  Rory MacDonald e um dos maiores da história, Georges St Pierre, hoje o Canadá não apresenta grandes estrelas consolidadas na organização. Entretanto, continuar recebendo eventos como esse ajuda a popularizar e expandir o mercado do MMA no país, plantando assim, sementes para o futuro. 

Essa presença ativa é de extrema importância para aqueles que querem ver o país crescer no esporte, como é o caso de Mike Proper Malott, a nova sensação do MMA canadense. Após derrotar Adam Fugitt com uma guilhotina no segundo round, Malott foi ovacionado pelos fãs presentes e entregou um discurso emocionante em sua entrevista pós-luta ainda dentro do octógono: “vamos esclarecer uma coisa sobre esta noite, este show é para nós, este foi um show canadense, este foi o MMA canadense voltando forte. Poder representar meu país no maior palco do mundo, em casa, é um sonho meu desde criança. Isso estava na minha cabeça há 30 anos. Eu não posso acreditar que finalmente consegui fazer isso”. Com o seu mais novo triunfo, o lutador chega a três vitórias consecutivas no UFC e pretende continuar trilhando seu caminho de sucesso, enquanto carrega com orgulho a bandeira do Canadá. 

 

Mike Malott sendo recebido pelo público canadense da Rogers Arena.  (Reprodução / Twitter: @ufc)
Mike Malott sendo recebido pelo público canadense da Rogers Arena.  (Reprodução / Twitter: @ufc) 

 

TODOS OS RESULTADOS DO UFC 289:

Luta da Noite - Marc-André Barriault vs. Eryk Anders

Performance da Noite - Charles Oliveira; Mike Malott; Stephen Erceg.

*** (Os vencedores ganham uma premiação extra de 50 mil dólares) ***

 

→ Card Principal. 

  • Amanda Nunes derrotou Irene Aldana por Decisão (unânime) - 50/44, 50/44, 50/43;
  • Charles Oliveira derrotou Beneil Dariush por Nocaute Técnico (socos) no 1º round;
  • Mike Malott derrotou Adam Fugitt por Finalização (guilhotina) no 2º round;
  • Dan Ige derrotou Nate Landwehr por Decisão (unânime) - 30/27, 29/28, 29/28;
  • Marc-André Barriault derrotou Eryk Anders por Decisão (unânime) - 30/27, 30/27, 30/27.

 

→ Card Preliminar.

  • Nassourdine Imavov vs. Chris Curtis acabou Sem Resultado (encontro de cabeças) no 2 round;
  • Jasmine Jasudavicius derrotou Miranda Maverick por Decisão (unânime) - 29/28, 29/28, 29/28;
  • Aiemann Zahabi derrotou Aoriqileng por Nocaute (socos) no 1º round;
  • Kyle Nelson derrotou Blake Bilder por Decisão (unânime) - 30/27, 30/27, 29/28.

 

→ Preliminares Iniciais.

  • Stephen Erceg derrotou David Dvorak por Decisão (unânime) - 29/28, 29/28, 30/27;
  • Diana Belbita derrotou Maria Oliveira por Decisão (unânime) - 30/27, 30/27, 29/28.