Fim de uma era
Nesta quarta-feira (8), Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), tornou-se oficialmente primeiro-ministro da Alemanha, colocando fim aos 16 anos de governo da democrata-cristã Angela Merkel. No cargo de chanceler federal desde 2005, Merkel deixa o poder aos 67 anos, e após 5.860 dias de governo. A “mutti”, mamãe em alemão, apelido carinhoso que recebeu em 31 anos na vida pública, ficou a 5 dias de bater o recorde de longevidade de Helmut Kohl (1982-1998). Nem mesmo os muitos anos na política desgastaram a popularidade de Merkel, segundo pesquisa recente do Pew Institute, 72% dos entrevistados, em todo o mundo, confiam nela. “Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito”, elogiou o novo chanceler Olaf Scholz, segundo ele, Merkel “permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças”.
O social-democrata de 63 anos foi eleito pela câmara baixa do Bundestag (parlamento alemão) por 395 votos a favor, 303 contra e 6 abstenções, dos 736 votos dos deputados. A coalizão “semáforo” tem 416 assentos do parlamento, porém muitos deputados estavam ausentes na votação de hoje (8), que registrou a presença de 707 parlamentares.
Scholz vai liderar a coalizão que conta, além dos social-democratas, com os liberais e os verdes. Isso porque nas eleições de 26 setembro, o SPD foi o partido mais votado, recebendo 25,7% dos votos, ficando à frente da União Cristã Democrata (CDU), partido de Merkel, que registrou seu pior resultado da história com 24,1%. Os Verdes registraram o melhor resultado de sua história com 14,8% dos votos, os liberais obtiveram 11,5%. Essa será a primeira vez que uma tripla coalizão governará a Alemanha desde 1950, e marca a volta dos social-democratas à chancelaria federal, o último social-democrata a comandar o país havia sido Gerhard Schröder (1998-2005).
Após a votação, Scholz, de máscara, recebeu aplausos e buquês de flores de líderes dos diferentes grupos parlamentares do Bundestag. Depois, foi recebido pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que o entregou a “ata de nomeação”, o que estabelece o início oficial de seu mandato de quatro anos. Em seguida, Scholz retornou ao Bundestag para prestar juramento ao cargo, antes de seguir para a chancelaria federal para a transferência de poder.
O novo governo
Esse será o primeiro governo com paridade de gêneros nos ministérios. Cumprindo promessa de campanha, oito pastas serão comandadas por mulheres e oito por homens. O percentual de 50% de mulheres comandando ministérios é o maior da história da Alemanha. Por liderar a coalizão, o SPD ocupa mais ministérios, os verdes ficaram com a vice-chancelaria e os liberais com o ministério considerado o mais importante, que é o de finanças. “Estou particularmente orgulhoso de que as mulheres agora estão a partir de agora à frente de ministérios que tradicionalmente não eram ocupados por elas”, afirmou Olaf Scholz.
A média de idade do novo governo é de 50,4 anos, menor do que a média de todos os inícios de legislatura dos quatro governos anteriores governados por Merkel. O último mandato de Merkel tinha média de idade de 51,4 anos. Aos 63 anos, Scholz é o mais velho do governo. As ministras mais jovens são Annalena Baerbock e Anne Spiegel, do partido Verde, que completam aniversário no mesmo dia, e farão 41 anos em 15 de dezembro
Veja a composição do novo gabinete:
Robert Habeck, 52 anos, co-presidente do partido Verde, será o vice-chanceler e ministro da Economia e Energia
Annalena Baerbock, 40 anos, co-presidente do partido Verde, candidata a chanceler pelo partido na última eleição, será a primeira mulher a comandar o ministério do Exterior
Christian Lindner, 42 anos, presidente do partido liberal, será o ministro das Finanças, considerado o mais poderoso dos ministérios
Nancy Faeser, 51 anos, líder do SPD no estado de Hasse, será a primeira mulher a comandar o ministério do Interior
Karl Lauterbach, 58 anos, o parlamentar social-democrata é epidemiologista e ocupará o cargo de ministro da Saúde, o novo ministro defende medidas mais rígidas contra a COVID-19
Christine Lambrecht, 56 anos, a social-democrata comandará o ministério da Defesa, sendo a terceira mulher a comandar a pasta de forma consecutiva
Wolfgang Schmidt, 51 anos, o social-democrata será o chefe da chancelaria federal, que coordena os trabalhos entre os diferentes setores do governo
Svenja Schulze, 53 anos, a social-democrata será uma das remanescentes da gestão Merkel, mas irá migrar de pasta, sairá do ministério do Meio Ambiente e irá para o ministério do Desenvolvimento
Steffi Lemke, 53 anos, do partido Verde assume o ministério do Meio Ambiente
Marco Buschmann, 44 anos, o membro do partido liberal será o novo ministro da Justiça
Anne Spiegel, 40 anos, do partido Verde vai comandar o ministério da Família
Klara Geywitz, 45 anos, a vice-líder do SPD estará a frente do ministério da Construção e Habitação
Bettina Stark-Watzinger, 53 anos, do partido liberal vai ocupar o cargo de ministra da Educação e Pesquisa
Claudia Roth, 66 anos, será a nova ministra da Cultura e Mídia, essa é uma pasta que ainda não tem status de ministério
Hubertus Heil, 49 anos, o social-democrata segue como ministro do Trabalho e Assuntos Sociais
Cem Özdemir, 55 anos, ex-co-presidente do partido Verde, ocupará o cargo de ministro da Agricultura. Essa será a primeira vez que a Alemanha terá um ministro com raízes turcas
Volker Wissing , 51 anos, o liberal será o ministro dos Transportes e Digitalização
O novo governo assume com um agravamento da pandemia no país. Nesta quarta-feira (8) a Alemanha registrou um recorde no número de mortes por COVID-19, com 527 óbitos em 24 horas, maior número em mais de dez meses, segundo autoridades locais. O novo primeiro-ministro e o novo ministro da saúde defendem ações mais rigorosas em relação a pandemia, Scholz já fez a defesa da vacinação obrigatória, o que poderia ocorrer entre fevereiro e março de 2022.