AGEMT na Pista: F1 Academy

Com o intuito de aumentar a presença no automobilismo, a categoria é feita exclusivamente por mulheres
por
Juliana Bertini de Paula
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24/04/2024 - 12h

 

Lançada em 2023, a F1 Academy é um projeto da Fórmula 1, que decidiu investir em uma nova categoria, completamente feminina. Apoiada por equipes já existentes, as corridas da “Academia da Fórmula 1” são realizadas por pilotas, mecânicas e engenheiras. Com o intuito de desenvolver e aumentar o número de mulheres no automobilismo, ela serve de base para campeonatos, como a W Series, a Fórmula 3 e a Fórmula 2.

 

Na categoria, são usados carros que são modelos da Fórmula 4, produzidos pela montadora italiana Tatuus, e que podem atingir até 240 km/h. Cinco equipes disputam, com três pilotas em cada uma. Elas são patrocinadas por diferentes marcas e, pela primeira vez, as dez equipes da Fórmula 1 apareceram como patrocinadoras das atletas. 

 

A diretora do projeto é Susie Wolff, ex-pilota e ex-chefe de equipe da Venturi na Fórmula E. “A F1 Academy apresenta uma oportunidade de promover mudanças genuínas em nossa indústria, criando a melhor estrutura possível para encontrar e cultivar talentos femininos em sua jornada para os níveis de elite do automobilismo, dentro e fora das pistas.”, disse ela após seu anúncio. 

 

Para Wolff, ainda é só o começo: “Acho que há muito mais que podemos fazer, mas já consigo perceber o impacto positivo que estamos tendo”, continuou.

A categoria conta com 15 pilotas, de onze diferentes nacionalidades – Foto: Reprodução/F1 Academy
A categoria conta com 15 pilotas, de onze diferentes nacionalidades – Foto: Reprodução/F1 Academy 

 

A CATEGORIA 

 

Os finais de semana tem quatro sessões diferentes, divididas em três dias. Nas sextas-feiras acontecem até dois treinos livres, o que depende do local de disputa. Aos sábados, acontece a classificação, em que a volta mais rápida das pilotas determina o grid de largada da Corrida 1, e a segunda, da Corrida 2. A primeira corrida acontece no próprio sábado, e a outra, aos domingos – cada uma com 30 minutos de duração. 

 

A pontuação é a mesma para as duas provas e as dez primeiras colocadas pontuam. São 25, 18, 15, 12, 10, 8, 6, 4, 2 e 1 pontos, respectivamente. E desde que termine entre as dez primeiras, é dado um ponto adicional para a competidora que cravar a volta mais rápida, em cada corrida. 

 

Neste ano, a F1 Academy iniciou a temporada de 2024, no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em Jeddah, na Arábia Saudita. O campeonato terá 7 rodadas no total, e acompanha o calendário da F1, passando por Estados Unidos, Espanha, Holanda, Singapura, Catar e, por fim, Emirados Árabes. 

 

No grid, temos uma representação brasileira: Aurélia Nobels, da ART Grand Prix e patrocinada pela Puma. Filha de pais belgas e nascida em Boston, nos Estados Unidos, a jovem de 17 anos reside no Brasil desde a infância e iniciou sua trajetória no kart cedo, aos 10. Em 2022, Nobels venceu a competição “FIA Girls on Track - Rising Star” e como prêmio, ingressou na academia da Scuderia Ferrari, a mesma que levou Charles Leclerc até a Fórmula 1. 

 

PRESENÇA DE MULHERES NO AUTOMOBILISMO

Segundo uma pesquisa da iniciativa "More than Equal", criada pelo ex-piloto David Coulthard, o público feminino da Fórmula 1 – atualmente a principal categoria do automobilismo mundial – representa cerca de 40% do total. A instituição também procura entender as principais barreiras para mulheres ingressarem na elite dos esportes de motor, entre elas foram citados o estereótipo negativo em cima das habilidades, os custos, a falta de pesquisa sobre os empecilhos físicos, a falta de modelos e exemplos femininos, entre outros. 

 

Em entrevista à AGEMT, Rafaela Ferreira, pilota da F4 Brasil, contou as dificuldades de ser uma mulher em um meio tão masculino, como o do automobilismo. Há 11 anos no ambiente, a jovem afirmou que já teve a sua competência contestada diversas vezes e que já disseram a ela que, por ser mulher, ela não merecia estar lá. Porém, sua paixão pelo esporte foi mais forte e a fez superar as adversidades: com apenas 18 anos, Rafaela foi a primeira mulher no pódio da Fórmula 4 no Brasil. Ela também comentou sobre a relevância da F1 Academy: “Acho um campeonato importante para nós mulheres, não só que competimos, mas para as torcedoras também. Tem potencial para aumentar ainda mais a presença feminina no esporte”. 

 

Rafaela foi a primeira mulher no pódio da F4 Brasil – Foto: Manu Silva
Rafaela foi a primeira mulher no pódio da F4 Brasil – Foto: Manu Silva

Thayná Weissbach, assistente de mídia da página Girls Like Racing, disse à AGEMT que ser mulher no meio automobilístico é complicado, mas que não deve desmotivar as jovens que querem seguir esse caminho. “Isso não deve te deixar pra baixo, mesmo ainda tendo menos reconhecimento, a gente sente que tem mais mérito, essa realização é mais valiosa”. Ela acredita que essa nova categoria vai ajudar as pessoas envolvidas a lidar melhor com as diferenças e aumentar a presença feminina nas categorias automobilísticas. 

 

RESULTADOS E PRÓXIMOS COMPROMISSOS

Na primeira rodada, no circuito Jeddah-Corniche, a francesa Doriane Pin, da Prema Racing (e apoiada pela Mercedes) dominou a pista. Ela foi a mais rápida no treino livre, conquistou as duas pole positions e venceu a primeira corrida, na sexta-feira (07/03). Na segunda prova, a pilota sofreu uma punição de 20 segundos, por passar duas vezes pela bandeira quadriculada, e perdeu a primeira colocação para a inglesa Abbi Pulling, da Rodin Motorsport (apoiada pela Alpine), a atual líder do campeonato, com 44 pontos. 

Abbi Pulling, Doriane Pin e Maya Weug no pódio da primeira corrida da F1 Academy na temporada, em Jeddah – Foto: Reprodução/Prema Racing
Abbi Pulling, Doriane Pin e Maya Weug no pódio da primeira corrida da F1 Academy na temporada, em Jeddah – Foto: Reprodução/Prema Racing 

 

A F1 Academy retorna às pistas para sua segunda etapa neste final de semana dia 3 de maio, no circuito de Miami, nos Estados Unidos.