A África desfila na passarela do samba

O carnaval é a melhor definição do caldo de cultura resultante das religiões de matrizes afro
por
Gustavo Zarza
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16/06/2022 - 12h

Por Gustavo Zarza 

O carnaval deste ano deixou muita gente admirada por uma figura que é um tanto questionada na sociedade brasileira. O guardião Exu foi o centro das atenções no carnaval do Rio de Janeiro, até levando o título deste ano. É preciso pensar sobre a verdadeira origem do samba, que não é originário deste continente, mas sim do continente africano que tem muita influência na cultura brasileira. 

As culturas africanas têm o costume de serem bem musicais, seja em funerais, casamentos, atividades sociais ou em manifestações, a música está constantemente envolvida. Tudo é sempre muito bonito e bem-organizado, porém tudo é original, não há ensaios ou coisa do tipo, como se fosse algo quase que natural. É provável que essa musicalidade esteja enraizada na cultura tribal que é passado de uma geração a outra. 

O Brasil sempre foi muito conhecido por ser um País alegre e dançante, muito por causa dos desfiles de carnaval. O samba e tantos outros estilos têm influência africana. As escolas de samba espalhadas nas grandes cidades se reúnem constantemente, seja para os ensaios que são muito importantes na véspera do carnaval ou para descontrair e deixar um pouco de lado as dificuldades da vida. Isso mostra a importância e a função social que as escolas de samba têm para certas comunidades, porque além de funcionarem como lazer elas também realizam diversas ações sociais. 

Como se sabe o samba começou nos Quilombos, quando os africanos se reuniam para um ritual religioso ou para cantar e dançar. Em entrevista a uma emissora de TV o historiador Luiz Antonio Simas comentou que o samba urbano como se conhece vem da troca entre diferentes culturas africanas. “É um caldeirão, é um lugar de encontros para a incessante produção de vida”. Ele também citou Roberto M. Moura afirmou que o samba "na verdade" veio porque primeiro veio a roda. No começo essas rodas e grupos eram feitos por aqueles que eram desprezados pela sociedade, por isso estilo musical era muito marginalizado e odiado pela elite brasileira. O samba só se populariza com o governo Vargas, na intenção de unificar o Brasil e criar uma identidade nacional, mas o que foi feito na época ficou conhecido como um embranquecimento do samba.

Atualmente, o profissional do carnaval se assemelha a um profissional do futebol, ele depende de resultados para que ele consiga um contrato maior. "As agremiações são muito grandes e gera dinheiro e empregos” disse José Jorge ou Mestre Tornado, mestre de bateria da Dragões da Real. Além da questão profissional o que se vê também é o show que é gerado. Há uma cobertura televisiva muito grande e com patrocínios muito fortes, fazendo do samba cada vez mais profissional e virado para o mercado. 

Mesmo com o movimento do capital, ainda há África no samba. "Você vê isso nos instrumentos de percussão, nos cantos e nas danças. Tudo isso vem dos quilombolas, dos cultos de candomblé e isso foi mudando até chegar no samba de hoje", disse o Mestre Tornado.  África e Brasil, não se veem um sem o outro, muito dos costumes e principalmente das músicas têm relações um com o outro que infelizmente ocorreram de uma forma bem triste. Como disse Vilém Flusser "os fundadores das escolas de samba não são os etruscos. Muito mais o são as fraternidades tribais da costa ocidental africana". Quando vemos os desfiles lá está a África, seja nos ritmos, nos cantos ou nas danças, lá está a raiz da música brasileira e de sua cultura.

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