Combater a pobreza menstrual é um dos desafios da gestão de políticas públicas globais. No Brasil, uma em cada quatro mulheres não têm acesso a absorventes, de acordo com relatório divulgado pelo movimento Girl Up - uma iniciativa parceira das Nações Unidas (ONU).
Entretanto, em países como a Nova Zelândia e Escócia, a questão vem sendo endereçada com mais vigor. Em fevereiro de 2021, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que as escolas do país vão distribuir gratuitamente o item de higiene. Já o parlamento escocês, no ano passado, determinou que a distribuição de absorventes e tampões seja feita para “quem precisar deles”.
Nos últimos anos, surgiu uma onda de conscientização no que diz respeito à obtenção de absorventes descartáveis. Contudo, colocar este produto como o único meio possível de solucionar a problemática, pode se tornar um transtorno ainda maior no futuro. Visto que os itens de higiene menstrual estão ligados à degradação do meio ambiente, explorar alternativas e possibilidades é essencial para encaminhar resoluções de impacto positivo a longo prazo.
Para começar, é preciso entender os componentes que estão envolvidos na fabricação deste produto: árvores e petróleo são as duas matérias-primas principais. De forma que a primeira é a origem da celulose e a segunda, é processada e vira diversos tipos de plásticos, por exemplo poli etileno e propileno. Todos estes são elementos usados na composição do absorvente.
Entretanto, existem três problemas que decorrem da utilização desses dois itens. São eles: geração de resíduos, gasto elevado de energia e fiscalização da origem da matéria-prima, nesse caso a madeira. A National Geographic, em novembro de 2020, publicou uma matéria abordando esse tema. Na reportagem é afirmado que os absorventes descartáveis possuem três tipos de plástico diferentes na constituição. Ainda falando desse material, vale lembrar que os absorventes são envoltos em uma espécie de capa protetora e posteriormente, colocados em outra embalagem. Tanto a capa quanto o pacote são feitos de plástico.
Em São Paulo, na Escola Politécnica da USP, foi realizada uma pesquisa sobre o ciclo de vida dos absorventes externos. Foi avaliada toda a cadeia produtiva, desde a produção, passando por logística e transporte, até o descarte. Os pesquisadores concluíram que a pegada de gás carbônico deixada por um absorvente durante seu ciclo de vida é equivalente a 9,6 kg/ano. Prosseguindo com os dados do estudo, os pesquisadores ressaltaram que o algodão é um componente importante desse produto, isto leva ao problema do consumo de água na produção. Estima-se que cada quilo de algodão precise de 20.000 litros de água para ser utilizado como matéria prima.
O Instituto Akatu, que trabalha na área do consumo consciente, fez uma estimativa e afirmou que uma pessoa pode, durante a sua vida, produzir cerca de 200 kg de lixo somente consumindo absorventes descartáveis. Em um raciocínio simples, pensando que a maioria dos componentes do absorvente são plásticos e estes demoram mais de 400 anos para se decompor, cada pessoa pode ser co-responsável pela degradação do ambiente por 4 séculos.
Outro fator importante na etapa do descarte é o destino dos absorventes. A maioria deles é destinada a lixões e aterros sanitários. Nos dois lugares, os produtos passam anos até se decompor e podem acabar contaminando o solo, uma vez que estes contém elementos químicos na composição. Além disso, esses aditivos são prejudiciais para a saúde daqueles que lidam com esse lixo descartado. Vale lembrar que existe um grande número de absorventes que são descartados no vaso sanitário, atitude que contribui para a degradação dos oceanos e ecossistemas.
Como tentativa de resolução, algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas e até mesmo a reciclagem desses materiais já começou a ser desenvolvida. No Reino Unido, a empresa “Knowaste” criou uma espécie de usina para reciclar esse lixo higiênico, transformando-o em madeiras ou telhas plásticas. A corporação calcula que nesse processo, 36 mil toneladas de carbono já deixaram de ser emitidas no meio ambiente.
Aqui no Brasil, são duas as opções mais comuns. O coletor menstrual e a calcinha absorvente. O primeiro, é mais antigo e comum, já que é prático e possui um interessante custo-benefício. Ele é lavável e pode ser usado por cerca de 10 horas. Uma das empresas que comercializa coletores, em território nacional, é a Fleurity e em seu site, eles garantem que quando bem cuidado, o produto dura 3 anos. Sobre valores, um coletor custa em média R$60 reais, o preço pode variar entre as marcas e modelos.
A estudante de publicidade, Amanda Ardigó, 20 anos, relatou a sua experiência como utilizadora do produto. “[Minha experiência] foi ótima, sem falar no conforto. É muito melhor do que o absorvente, mais higiênico e você pode ficar mais tempo sem se preocupar com odor.” Quando questionada sobre a motivação da mudança de hábitos, a publicitária afirmou que “Com certeza foi o meio ambiente. Na realidade, foi a melhor opção tanto a longo prazo, na questão sustentável, quanto para o meu bolso.”
A Fleurity também vende calcinhas absorventes, contudo a empresa que lidera esse cenário é a Pantys. Marca brasileira e fundada por mulheres, a empresa trabalha com diversos modelos da peça íntima. Com opções para todos os gostos (e fluxos), a popularidade das calcinhas absorventes da pantys vêm crescendo. “O problema de acúmulo de lixo é um dos maiores que enfrentamos hoje e Pantys nasceu pensando na raiz desse problema, em reduzir o lixo dos absorventes descartáveis [...] e agora nos preocupamos também com o “depois”, afinal, não existe jogar nada fora, tudo se transforma em alguma coisa.”
As peças são laváveis, reutilizáveis e prometem ciclos tranquilos e sem vazamentos. Em questão de valores, cada uma custa em média 80 reais. Vale lembrar que os dois produtos são testados, certificados e se utilizados da maneira correta, não apresentam risco nenhum à saúde.