1° de Maio de 1994, o Brasil vivia um dos momentos mais tristes de sua história, quando um pouco mais de um milhão de brasileiros testemunharam o acidente do tricampeão Ayrton Senna no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, na Itália. O piloto da equipe inglesa Williams-Renault havia atingido a curva Tamburello (a mesma em que o também tricampeão brasileiro Nelson Piquet bateu com a Williams em 1987) e perdeu o controle do carro devido a uma barra de direção quebrada, seguindo reto e chocando-se violentamente contra o muro de concreto.
A telemetria mostrou que Senna, ao notar o descontrole do carro, ainda conseguiu, nessa fração de segundo, reduzir a velocidade de cerca de 300 km/h (195 mph) para cerca de 200 km/h (135 mph). Os oficiais de pista chegaram à cena do acidente e, ao perceber a gravidade, só puderam esperar a equipe médica. Por um momento a cabeça de Senna se mexeu levemente, e os brasileiros, que assistiam pela TV, imaginaram que ele estivesse bem, mas esse movimento havia sido causado por um profundo dano cerebral. Horas depois, o boletim de notícias extraordinário anunciava o falecimento do piloto.
O tricampeão Ayrton Senna, tinha tinha 33 anos, à época. Os três títulos foram conquistados com a inglesa McLaren, onde estava desde 1988. Senna trocou a escudería pela Williams, a equipe do momento na categoria. O time vinha de anos dominantes na F1, contava com os carros tecnologicamente mais avançados da competição, o que permitiu aos pilotos Nigel Mansell e Alain Prost conquistar seus títulos em anos consecutivos (Mansell em 1992 e Prost em 1993) de forma fácil. Em 1994, a Williams tinha visto Prost se aposentar e precisava de um substituto. Senna, que vinha batendo na porta da equipe havia algum tempo, acabou assumindo o cockpit do carro. Mas tanto o piloto quanto o time foram pegos em um contrapé, para a próxima temporada.
A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) tinha banido todos os recursos eletrônicos nos carros de corrida a fim de evitar uma concorrência desleal entre as equipes com mais e menos recursos da Fórmula 1 e o domínio de apenas um único time. A mudança fez os carros ficarem altamente instáveis devido às altas velocidades, resultando em vários acidentes sérios no campeonato, incluindo o que tirou a vida de Senna.
Sua morte foi uma tragedia para os brasileiros e abalou o país. O governo brasileiro declarou três dias de luto oficial e concedeu a ele honras de chefe de Estado, com a característica salva de tiros. Entre o cortejo do caixão com o corpo do piloto desde o Aeroporto de Guarulhos até a Assembleia Legislativa, o velório, que durou aproximadamente 24 horas, e o cortejo final desde a Assembleia até o Cemitério do Morumbi, aproximadamente dois milhões de pessoas estiveram presentes.
“Eu morava num prédio que tinha vista para a Marginal Tietê e vi o cortejo fúnebre passando na via. O corpo do Senna tinha chegado ao Brasil, pelo aeroporto de Guarulhos e ia fazer o trajeto até o velório. Era de manhã cedo e eu me preparava para ir trabalhar. Já naquele ponto tinham muitos carros acompanhando. Quando cheguei no trabalho, desci na estação do metrô que era perto da Avenida Tiradentes, ainda vi na rua o cortejo passar. A cidade parou. Nunca imaginei uma cena daquelas, a maior comoção popular que já vi, pessoas aplaudindo, muitas chorando. Era a despedida do nosso herói, que nos enchia de orgulho. Acho que o último herói deste país”, relatou Marcia Silva, publicitária, 54 anos.
O ano de 1994 da Fórmula 1 é considerado um dos mais polêmicos da história da categoria, seja por conta de seus acidentes e tragédias (além de Senna, o austríaco Roland Ratzenberger também havia morrido forma de violenta na pista de Ímola) ou por causa de sua controversa disputa pelo título mundial entre Michael Schumacher e Damon Hill, mas para os brasileiros, esse ano ficou e ficará sempre marcada como o ano que Brasil perdeu Ayrton Senna.