28ª Parada LGBT+ é celebrada com verde e amarelo

Com um forte embasamento político, o maior evento da diversidade do mundo convidou participantes a votarem conscientemente nas eleições deste ano
por
Victor Trovão
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04/06/2024 - 12h

      No último domingo (2/6), a cidade de São Paulo recebeu a 28ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ tradicionalmente na Avenida Paulista. Sob o tema "Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo: Vote consciente pelos direitos da população LGBT!", o evento contou com uma mensagem política ao convidar os participantes a marcharem com vestimentas verde e amarelo com o propósito de ressignificar as cores da bandeira do país, uma vez que costumavam ser o dress code de protestos bolsonaristas. 

      Considerada a maior Parada LGBT+ do mundo, a organização APOLGBT-SP (Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo) é a responsável pela realização do evento. A Associação investiu na ideia das roupas verdes e amarelas junto às tradicionais camisetas da seleção após a popularização do dress-code no show da Madonna, sediado no Rio de Janeiro no último mês. Em companhia da drag queen Pabllo Vittar, a cantora americana usou as cores da bandeira no concerto junto a outros artistas. 

     A concentração do evento começou a partir das 10h e pela primeira vez a Parada correu por meio de um trajeto atípico devido a algumas obras que estão acontecendo na Paulista. Dessa forma, o caminho foi alterado para o lado ímpar bem como as entradas no evento foram organizadas por meio das ruas paralelas à avenida. 

Muito mais que a marcha 

     Além da Parada, a virada do mês foi agitada à medida que diversos eventos fizeram parte da programação. No dia 30 de maio, o Memorial da América Latina recebeu a “Feira Cultura da Diversidade LGBT+” com inúmeras palestras e stands no local. Nos dias seguintes (31/5 e 1/6 ), aconteceu o “Encontro Brasileiro de Organizações de Paradas LGBT+, bem como a “Corrida do Orgulho LGBT+” e a “7ª Marcha do Orgulho Trans da Cidade de São Paulo” ao longo do feriado de Corpus Christi. 

    Segundo o grupo “Monitor do Debate Político no Meio Digital” da Universidade de São Paulo (USP), o público da Parada do Orgulho foi estimado em mais de 73 mil pessoas durante o horário de pico de concentração do evento. Já a organização da marcha fala em cerca de 3 milhões de participantes ao total durante todo o dia.

    A multidão contou com a passagem de mais de 16 trios elétricos, com destaques para os shows de Pabllo Vittar, Glória Groove e Banda UÓ.

Vítimas da LGBTfobia

    A Parada do Orgulho é um evento político de extrema importância e também desafiador à medida que acontece no país mais LGBTfóbico do mundo. O Brasil é o país que mais mata seus próprios cidadãos apenas pelo direito de serem quem são. 

    De acordo com dados levantados em 2023 pelo GBB (Grupo Gay da Bahia),  273 pessoas LGBTQIA+ foram mortas de forma violenta por conta de sua orientação sexual. Desse número, 127 eram pessoas trans (travestis e transgêneros), 118 homens gays, 9 lésbicas e 3 seriam bissexuais. Ressalta-se que esses casos tendem a ser ainda maiores, dado que alguns dos crimes ainda estão sendo apurados pela ONG e que a subnotificação de crimes contra a comunidade ainda é uma realidade no país. 

    Ao mesmo tempo, dados e pesquisas como essas são fundamentais e devem ser levados ao Ministério dos Direitos Humanos a fim de que se pense na criação de políticas públicas que atuem em defesa da população não hétero, sobretudo após terem sofrido as mais violentas negligências ao longo dos quatro anos do governo Bolsonaro. Durante o mandato, em 2022, as ocorrências de homofobia ou transfobia subiram para 488, o que representa um aumento de 54% se comparado a 2021 (316). Foram registradas agressões a mais de 2,3 mil pessoas LGBTQIA+. Esses dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FBSP. 

Participações políticas

     Pensando na esfera política, apenas dois pré-candidatos ao cargo de prefeito de São Paulo estiveram presentes na Parada. Os deputados Guilherme Boulos (PSol) e Tabata Amaral (PSB) participaram do evento e comentaram sobre a marcha.

     Ao microfone, o deputado discursou sobre a importância do evento e das ações propiciadas por políticas públicas:“Já se foi o tempo onde as pessoas não podiam ser quem são. Obrigado aos organizadores da Parada por esse evento que já é parte indispensável da cultura da nossa cidade. Estamos aqui hoje por uma coisa muito simples, o que a gente quer é respeito e democracia. E essa parada é a expressão viva disso. Viva a diversidade. Preconceito nunca mais”. 

     Rodeada de eleitores e na companhia do ativista William Callegaro, Tabata também reconheceu a ocasião como pauta  fundamental e expressou seus sentimentos em participar da marcha. “Estou muito feliz de estar aqui em mais uma parada LGBT. Estamos aqui para reafirmar que esse evento que é a maior parada do mundo é para encher a gente de orgulho. Apesar de todas as barreiras e violência, a gente segue firme. Estou muito feliz por esse dia de celebração e de luta por direitos”, declarou em suas redes sociais. 

      O atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes, não esteve presente na Parada e explicou o motivo de sua ausência - um retorno a um exame de endoscopia marcado na última semana. Ainda que não tenha participado, Nunes se pronunciou em suas redes sociais e comentou sobre a edição do evento: “São Paulo se orgulha de ser uma cidade que acolhe todas as pessoas sem distinção”. 

Projetos 

       Com um contrato e tema intrinsecamente ligados à política, em especial ao poder do voto consciente da população LGBT+, o evento é um marco ao passo que o governo Bolsonaro promoveu deliberadamente o sucateamento dos direitos da população. É visível e estatístico o retrocesso ao longo de seu mandato, que  promoveu o crescimento dos índices de violência e o sucateamento de diversas políticas públicas direcionadas à causa. Nesse sentido, a participação de apenas dois candidatos à prefeitura da maior cidade do país denota a falta de importância por grande parte dos candidatos, bem como a ausência de pautas em suas agendas e propostas políticas que se preocupem com a temática. 

 

Parada LGBT
Trios da parada LGBT+ iniciando trajeto na Av. Paulista às 10h00 próximo ao Trianon.  Foto por Victor Trovão 
Parada LGBT 3
Último trio da parada tematizado sobre política com cartaz de incentivo ao voto consciente da comunidade. Foto por Victor Trovão 
Parada LGBT 2
Participante da parada com cartaz em memória das vítimas da LGBTfobia. Por Victor Trovão