1o. de abril: o dia que ainda tortura o país

Apesar de um passado violento e opressor, alguns brasileiros insistem em relembrar de momentos sombrios da história do país
por
Giuliana Zanin
Laura Teixeira
|
01/04/2023 - 12h

Neste sábado, 1o de abril, completam-se 59 anos do Golpe Militar de 1964. Esse período foi marcado pela tortura e censura promovida pelos militares e não só, como também pela resistência do povo brasileiro para restaurar a democracia no país. No entanto, no presente, essa luta deixa rastros em relatos e movimentos políticos reacionários.

 

1964 = 2023?

8 de janeiro de 2023, por volta das 15 horas do primeiro domingo do governo Lula, eleito democraticamente pelo povo. Extremistas invadem o Palácio dos Três Poderes em Brasília. Uma multidão avistada de longe utiliza a bandeira do Brasil no peito em ato antidemocrático. O que deveria ser um símbolo nacional representativo de vitória e democracia, era vestido pelo ódio. O dia entrou para a história. 

.
8 de janeiro, o dia que a democracia brasileira foi atacada mais uma vez

Sob uma suposta ameaça comunista e golpe de Estado de esquerda, a polarização e a alienação política permitiram a destruição da sede da República que relembra o mesmo contexto que trouxe o golpismo ao país há quase 60 anos. Com o poder nas mãos, João Goulart teve seu governo deposto por quem viria a ser o primeiro dos 5 ditadores entre os anos de 1964 e 1985: Castello Branco. 

O populismo, a manipulação ideológica e a visibilidade nas mídias sociais são táticas que o bolsonarismo usa para convencer o brasileiro sobre o mito. Segundo dados do TSE, mais de 50 milhões de pessoas tentaram reelegeram Jair Bolsonaro no primeiro turno das eleições de 2022. 

 

O que há de comum além do autoritarismo?

 

As duas épocas viviam instabilidades sociais: a população se dividia diante dos políticos que a representavam. Uma renúncia breve e polêmica de Jânio Quadros deu a Jango, seu vice, o comando do país. Porém, com a abrupta mudança de direção, a falta de apoio militar e a política externa que não andava bem, as probabilidades de um golpe eram altas. Então, com um suporte esperançoso de uma nova governança, Castello Branco, entra na política a fim de nacionalizar as relações e decisões gerenciais, sendo visto como uma figura de salvador.

Enquanto nas eleições de 2018, após o Impeachment de Dilma (PT) e a criticada administração do seu substituto, Michel Temer, o candidato Jair Bolsonaro (na época sem partido), ganha espaço e adeptos ao seu movimento pelos próximos 4 anos com uma postura militarizada e messiânica, sustentada pela oposição ao projeto do PT.

 

AS FACETAS NEGACIONISTAS

 

Na véspera de se completarem 59 anos do fim de um regime que torturou mais de 20 mil pessoas, segundo o relatório final de 2014 da Comissão Nacional da Verdade, o Senador e ex-vice presidente da República, Hamilton Mourão,  faz uma declaração referindo-se ao Golpe como “Revolução de 31 de março”. Não é a primeira vez que o político faz um comentário como esse. Em 2022, no seu perfil do Twitter, ele afirma ter sido uma “Revolução Democrática”. É emblemática a fala quando se tem como relevante a filiação do general da reserva com o governo anterior.

Há exatamente um ano atrás, o então presidente, Jair Bolsonaro, fez uma declaração durante a cerimônia de saída dos ministros para a disputa das eleições, valorizando o período militar "O que seria do Brasil sem as obras do governo militar? Não seria nada! Seríamos uma republiqueta” e mais uma vez negou se tratar de um golpe de estado.

.
O então deputado federal, Jair Bolsonaro, comemora o golpe militar de 64 - Reprodução 

Nos últimos 4 anos, a gestão federal celebrou a data do golpe como a salvação do Brasil e que ainda por cima “sustentou e pacificou” o país. O ex- Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, fez uma menção no último ano de mandato sobre a estabilidade econômica que vivenciavam os presentes na época e que toda interpretação deve ser lida dentro do próprio contexto, pois aquele período fortaleceu a democracia.

Falas como as ditas anteriormente remetem à interpretação forjada e negligenciada da dor sofrida durante o período autoritário. “434 vidas foram tiradas o desaparecidas, 8,3 mil indígenas foram mortos por "ação ou omissão", mais de 20 mil torturados, 7 mil exilados e 19 crianças sequestradas”, segundo a Comissão da Verdade que havia sido desativada pela gestão anterior e agora, em 2023, será retomada.