Por Julia Lourenço Rocha
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco cultural que completou 100 anos em fevereiro deste ano, realizado com o intuito de festejar os 100 anos da Independência do Brasil, o evento ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo e apesar de não ser o primeiro evento modernista, deu força ao movimento no país. O evento juntou diversos artistas da música, literatura e pintura que tinham o intuito de romper com as influências europeias para começar a produzir uma arte autoral brasileira.
Apesar de escandalizar o público da época, estabeleceu as bases para a consolidação do Modernismo no país. Para o professor e doutor em Comunicação e Semiótica do Departamento de Artes da PUC-SP, Marcus Bastos, o evento foi extremamente positivo “a arte no final do século XIX era muito formalista, por exemplo, na poesia o parnasianismo era super metrificado, o modernismo veio oxigenar isso e trouxe uma série de novas ideias, muito ligadas também ao fato de que a vida estava se tornando cada vez mais urbana naquela época, então trouxe uma atualização de pensamento, buscando produzir coisas que tinham mais a ver com a vida urbana.”
Marcus ainda afirma que o maior legado foi justamente a capacidade de fazer uma renovação da arte no Brasil, para ele foi um grande marco na cultura brasileira do século XX, onde é possível analisar a produção artística antes e depois da Semana de Arte Moderna.
Mesmo com o intuito de instaurar uma identidade nacional artística, é possível observarmos que o evento não foi completamente bem-sucedido, já que em um país com uma pluralidade cultural tão vasta como o Brasil, seria necessário que todas as vertentes tivessem oportunidades iguais de visibilidade, o que 100 anos após o evento ainda não é uma realidade. O fato de ter sido realizado majoritariamente por uma elite paulista branca e estudada levanta debates até hoje sobre o legado elitista e excludente que o evento teve.
Quando perguntado sobre a possibilidade de haver outro evento tão impactante como foi a Semana de Arte Moderna de 22, Marcus declara: “Eu acho difícil que haja outro evento como este porque uma coisa que acontece neste período contemporâneo é que não temos mais movimentos tão unificados, há uma diversidade muito grande, algo muito mais heterogêneo, o que é excelente na verdade, mas dificulta ter esse tipo de confluência maior.”