"Você sabe que posso levar isso para o próximo level, bebe" Essas são as palavras que a cantora norte-americana Britney Spears declara na faixa de abertura do seu sétimo álbum de estúdio entitulado Femme Fatale, antes da canção explodir em um refrão contagiante e viciante. O disco, lançado em 2011, completou 10 anos em 25 de março desse ano e se revela muito mais complexo e excelente revisitado com outros olhos e ouvidos.
Tomemos como exemplo o verso citado no começo do texto, o que parece ser uma simples composição de música chiclete se torna algo maior acompanhado da voz robótica da cantora e da produção eurodance da faixa. Spears de fato está elevando a música pop ao próximo nível – ao mundo da artificialidade, do dubstep – e fazendo jus ao título da música "Till the World Ends" nos convida a continuar dançando até o mundo acabar.
Os outros destaques do albúm são claros, o hit "Hold it Against Me" é uma das melhores canções de sua carreira, o hino de break up "Inside Out", a divertida "How I Roll" que se assemelha ao estilo da produtora SOPHIE, o EDM em parceria com will.i.am "Big Fat Bass", "Trip to Your Heart" que em momentos parece um update autotunado da famosa "Everytime" e "Criminal", uma balada mid-tempo que foi hit no Brasil.
Em seu "Manifesto ciborgue" publicado em 1985, a pensadora Donna Haraway se utiliza da imagem de um ciborgue, uma criatura pós-humana para demonstrar um ser que transcende as limitações de gênero e sexuais impostas pela sociedade dominante. Com Femme Fatale, Britney parece levar esse utopismo ao mundo pop, sua voz se encontra cada vez mais computadorizada e recheada de efeitos industriais, as músicas cada vez mais super produzidas, futuristas, com hooks e batidas viciantes. Não é à toa que o álbum serve de base para entendermos dois gêneros nascidos recentemente com raízes fortes na comunidade Queer online, o pc music e o hyperpop, que se conectam a nomes aclamados como SOPHIE, Charli XCX, A.G. Cook, Dorian Electra, entre outros.
Com o lançamento de "Framing Britney Spears", documentário produzido pelo The New York Times que expõe os assédios da grande mídia a cantora e a tutela imposta pelo pai que controla desde 2008 as finanças da filha, tornou-se necessário ressignificar os problemas mentais enfrentados por Britney que marcaram sua carreira em 2007, mas é também preciso fazer o mesmo com sua artisticidade. Se antes a musicista era definida por críticos esnobes como um mero fantoche nas mãos de sua gravadora, o cenário atual de boas-vindas ao poptimism e popularidade crescente do feminismo nos dizem outra coisa: a princesinha da pop sempre foi uma artista de talento, e o visionarismo de Femme Fatale confirma o fato.