Entenda como funcionam as eleições na Índia, país com maior período eleitoral do globo
por
Matheus Almeida
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29/04/2024 - 12h

As eleições na Índia começaram, no último dia (19), e, sendo o país mais populoso do mundo, é também o que possui maior eleitorado. Nessas eleições, 469 milhões de pessoas irão às urnas, a maior quantidade de votantes da história da nação. 

 O processo dura 44 dias, vai até dia primeiro de junho e é dividido em sete fases. Cada região da Índia participa de uma delas. 

Mas, como funciona a disputa eleitoral? 

Urna de votação indiana
Urna eletrônica no país é “mais portátil” que a brasileira por conta do transporte durante as eleições. Foto: Nasir Kachroo/Shutterstock

No sistema político indiano, o primeiro-ministro é eleito indiretamente, escolhido pelo partido que mais conquistar cadeiras no Lok Sabha, como é chamado o Congresso Nacional.  

São 543 cadeiras em disputa e, para conseguir a maioria, um partido precisa de pelo menos 272 assentos. Assim como no Brasil, a votação acontece por meio de urnas eletrônicas. Porém, na Índia, essas urnas são “mais portáteis”, devido ao fato de serem transportadas por todo território, dentro do período designado a cada região. 

Além disso, o Comitê Eleitoral Indiano (CEI) determina que deve existir uma cabine de votação a até 2km de cada eleitor registrado.

Partidos e Canditados

Narendra Modi
Atual Primeiro Ministro, Narendra Modi, é favorito nas eleições deste ano – Foto por Evelyn Hockstein/Reuters

Segundo pesquisa da revista India Today,  o favorito para ganhar a disputa é o atual primeiro-ministro Narendra Modi, do partido Bharatiya Janata (BJP). 

A oposição é  formada pelo segundo maior partido,  o Congresso Nacional Indiano (INC) e outros partidos menores contrários a Modi, que formam a coligação Aliança Inclusiva para o Desenvolvimento Nacional Indiano (INDIA). O principal representante da Aliança é Rahul Gandhi. 

Gandhi vem de uma família tradicional na política indiana e é filho do ex-Primeiro Ministro, Rajiv Gandhi. 

Rahul Gandhi
Rahul Gandhi – Foto por Arun Sankar/AFP

Segundo o internacionalista e mestrando da PROLAM-USP Carlos Magno, a popularidade de Modi vem de um nacionalismo hindu, religião da maioria dos indianos, também motivado por uma desavença histórica entre hinduístas e muçulmanos. 

“Do segundo mandato, iniciado em 2019, para os dias atuais, o governo tem se radicalizado cada vez mais nesta política nacionalista e tem encontrado adesão por grande parte da população” conta Magno.  

O internacionalista acrescenta que o favoritismo do premiê é reforçado pela perca de força da coligação INDIA, formado por mais de 20 partidos. A coalizão que prometia uma frente ampla forte, não aparece bem colocada nas pesquisas de opinião. 

“Conforme as eleições avançam, o que vemos é uma estagnação da campanha eleitoral que vem sendo construída, longe de ter grande adesão por parte da população”.  

Magno afirma que a base de apoio do BJP está muito bem consolidada no país.  “Dificilmente vamos ver uma mudança de rumo na política indiana no curto prazo”, finaliza.

Empresa chinesa, proprietária do aplicativo, têm até janeiro para vendê-lo a compradores americanos
por
Ana Julia Mira
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27/04/2024 - 12h

O presidente dos EUA, Joe Biden, sancionou, na última quarta-feira (24), projeto de lei que pode proibir o funcionamento do Tik Tok no país, sob justificativa de risco de vazamento de dados dos usuários americanos para a China.

Ao lado esquerdo, a imagem retrata Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, falando com dois microfones à sua frente. Ao lado direito, há uma mão segurando um celular voltado para cima e a logo do TikTok em evidência na tela.
Governo americano requer que empresa chinesa venda o aplicativo em 270 dias. Foto: AFP

A lei obriga a empresa chinesa ByteDance, proprietária da rede social, a encontrar um comprador americano para o aplicativo em até 9 meses, podendo se estender por mais 90 dias caso Biden note avanços em direção à venda.

O não cumprimento do prazo, poderá acarretar na retirada do TikTok das lojas de aplicativo e o seu banimento completo no país, impedindo a interação com seu conteúdo e a realização de novos downloads. 

A decisão não é repentina, o debate quanto à segurança dos dados obtidos pelo TikTok acontece desde o governo Trump. O projeto de lei foi aprovado depois que os congressistas incluíram a proposta junto ao pacote de ajuda externa para Israel, Taiwan e Ucrânia. 

Uma versão anterior do PL estava paralisada desde março no Senado. A proposta foi adicionada junto ao pacote de assistência internacional porque projetos de financiamento, geralmente, são aprovados mais rapidamente nas Casas, além de serem uma prioridade do presidente estadunidense. 

A empresa, no entanto, se posicionou no X (antigo Twitter), horas após a aprovação do projeto, dizendo que não tem planos de vender o aplicativo para nenhum proprietário americano e que irá recorrer da decisão. 

“O fato é que investimos milhões de dólares para manter os dados dos EUA seguros e a nossa plataforma livre de influências e manipulações externas”, afirma o Tik Tok em comunicado.

Imagem retrata print de publicação de pronunciamento da página de políticas do TikTok no X.
Empresa acredita que decisão é inconstitucional  e diz que irá recorrer. Foto: Tik Tok 

Bruno Molina Meles, advogado especialista em Direito Digital, explica que segundo a Constituição dos EUA, o Congresso não pode criar lei que proíba o livre exercício da liberdade de expressão, mas acrescenta: “esse direito não pode ser entendido como absoluto, pois essa liberdade precisa conviver com os demais direitos, dentro de um sopesamento (equilíbrio)”.

Meles acredita que o desenrolar após decisão do Governo estadunidense ainda é incerta, mas que as consequências podem ser avassaladoras, visto a notoriedade do aplicativo no país. Os Estados Unidos possuem cerca de 170 milhões de usuários ativos na rede social e 7 milhões de empresas que usam seus recursos. 

Retaliação iraniana lançou mais de 300 drones contra Israel; essa foi a maior ofensiva já realizada com esse armamento na história
por
Leticia Falaschi LIma de Moura
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17/04/2024 - 12h

O Irã lançou mais de 300 drones, e mísseis de cruzeiro e balísticos contra território israelense, no último sábado (13), como forma de retaliação ao ataque do exército israelense ao consulado do Irã em Damasco, na Síria, no início de abril (1). O ataque com drones realizado pelo país islâmico foi o maior da história.  

A investida contra a base diplomática iraniana deixou 11 mortos, incluindo membros da Guarda Revolucionária Iraniana. A retaliação de sábado foi legitimada pelo presidente iraniano com base no artigo 51, estabelecido pela Organização das Nações Unidas, que permite o uso da violência pelos países em resposta a uma agressão. 

A defesa israelense, com ajuda dos Estados Unidos, conseguiu neutralizar 99% do ataque iraniano. Autoridades dos EUA disseram que mais de 70 drones e três mísseis foram interceptados pela Marinha norte-americana. 

O “domo de ferro” foi outro mecanismo de defesa utilizada por Israel  que contribuiu para o sucesso do bloqueio. O mecanismo funciona como uma espécie de “caça-míssil”, onde os projéteis interceptadores colidem com os mísseis inimigos, servindo como escudo ao local.  

Ainda no sábado (13), anteriormente ao lançamento dos mísseis do Irã, as autoridades israelenses realizaram evacuações, paralizações de aulas e atividades de serviços não essenciais.  

O Primeiro-Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mantém comedimento sob novo ataque ao Irã e menciona possíveis reações mesmo sem contar com o apoio dos EUA.  

"Quero deixar claro – tomaremos nossas próprias decisões e o Estado de Israel fará tudo o que for necessário para se defender”, afirmou o premier, de acordo com um comunicado divulgado por seu gabinete.  

Mesmo sem querer atacar belicamente o território iraniano, o governo estadunidense afirmou, nesta terça-feira (16), que está trabalhando em um novo pacote de sanções contra o Irã.  

“Após o ataque aéreo sem precedentes do Irã contra Israel, o presidente Joe Biden está coordenando com aliados e parceiros, incluindo o G7, e com líderes bipartidários no Congresso, uma resposta abrangente”, escreveu Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, em comunicado.  

António Guterres, secretário geral da ONU, disse aos Estados envolvidos no conflito que "é hora de baixar a temperatura". O Conselho de Segurança concedeu, no domingo (14), uma reunião de emergência a pedido de Israel, que pediu sanções ao Irã. O encontro que, durou menos de duas horas, terminou sem resoluções.   

O Itamaraty se posicionou de forma cautelosa sobre o ataque, se mantendo fora de condenações específicas aos lados envolvidos, apenas colocando-se como a favor de abater qualquer exacerbação violenta.  

 “O Brasil condena, sempre, qualquer ato de violência e o Brasil conclama sempre ao entendimento entre as partes", declarou Mauro Vieira, Ministro das Relações Exteriores, durante coletiva na segunda-feira (15).  

 O posicionamento do Brasil, foi malvisto pela comunidade judaica brasileira que esperava uma colocação mais dura do país em relação à retaliação iraniana.  

A recente aprovação marca um momento histórico no conflito e muda o tom do posicionamento dos EUA em relação a Guerra
por
Luane França
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27/03/2024 - 12h

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, nesta segunda-feira (25), uma proposta de cessar-fogo imediato no conflito entre Israel e Hamas. A medida recebeu o apoio de 14 países, enquanto os Estados Unidos optaram pela abstenção. É a primeira resolução admitida após cinco meses e quinze dias de conflito que já deixou mais de 30 mil mortos apenas na Faixa de Gaza. 

A iniciativa, encabeçada por Moçambique, foi proposta por um grupo de países que integram os assentos rotativos na organização, incluindo Argélia, Coreia do Sul, Equador, Eslovênia, Guiana, Japão, Malta, Moçambique, Serra Leoa e Suíça. Por outro lado, China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos representam os assentos permanentes do conselho, com direito a veto.

A resolução articulada tem como objetivo garantir um período de tranquilidade durante o restante do mês sagrado do Ramadã, iniciado em 11 de março deste ano e que se estenderá até 10 de abril, momento de significativa importância para os seguidores do Islamismo.

Durante o Ramadã, um período de reflexão e oração sagrada para os muçulmanos, sendo considerado um dos pilares do Islã, os fiéis jejuam diariamente do nascer ao pôr do sol, como uma forma de expressar devoção e buscar purificação espiritual.

Além disso, a proposta sugere uma interrupção imediata e duradoura do conflito, com o intuito de possibilitar a libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas e garantir o acesso à ajuda humanitária em Gaza. 

Contextualização do conflito entre Israel e Palestina em Gaza. 

Em meio a um histórico marcado por conflitos e tensões políticas, a disputa territorial entre Israel e Hamas se intensificou em 7 de outubro de 2023, após ataques terroristas cometidos pelo grupo islâmico palestino em território israelense. 

O grupo extremista lançou uma série de ataques de natureza variada, com o objetivo recuperar o território palestino ocupado por Israel. A ofensiva militar incluiu bombardeios em cidades israelenses, sequestros de reféns e ações que culminaram na morte de civis.    

Em resposta aos ataques, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou que o país estava em guerra e, logo após, ordenou um bombardeio à Faixa de Gaza, território controlado pelo grupo Hamas. Isso resultou na morte de cidadãos palestinos que, predominantemente, residiam na região.  

O impacto humanitário diante dessas tensões crescentes e do conflito resultante tem sido profundo. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o número de vítimas reflete a gravidade da situação. Este conflito prolongado entre Israel e o grupo terrorista foi identificado como o mais mortal em território israelense desde 2008 e o mais letal na Faixa de Gaza desde 2015.

O Ministério da Saúde palestino, controlado pelo grupo Hamas, divulgou, quatro meses após o início do conflito, a situação alarmante na Faixa de Gaza. Os contínuos ataques israelenses resultaram na perda de 27.708 vidas, incluindo mulheres e crianças, destacando a natureza devastadora do conflito. 

Adicionalmente, aproximadamente 67.147 pessoas foram gravemente feridas durante os confrontos. Isso reforça a urgente necessidade de intervenções humanitárias para aliviar o sofrimento da população afetada.

Mulher adulta e uma criança caminham de mãos dadas em meio a destroços. Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas/CNN Conteúdo
Mulher adulta e criança caminham de mãos dadas entre destroços. ​​Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas/CNN Conteúdo

 

O impacto prático da resolução de cessar-fogo na guerra

A ocupação do território palestino por Israel já dura 75 anos. Segundo Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com foco na Política Internacional, esse fator, somado ao apoio dado pela comunidade internacional ocidental, violou profundamente a soberania e autonomia da Palestina e é um dos principais obstáculos a serem enfrentados para a resolução do conflito.

A proposta de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU pode ser considerada um avanço significativo no campo diplomático, uma vez que é a primeira resolução a ser admitida durante o confronto. A aprovação demonstra o esforço conjunto da comunidade internacional em busca de uma solução para o conflito. 

Entretanto, apesar de aprovada pela maioria dos membros do Conselho de Segurança, Amaral acredita que a resolução não terá efeito imediato. O professor acrescenta que, a médio prazo, pode ser que ela inspire outras resoluções que levem ao fim do conflito, mas que nesse momento "a grande questão é em que medida ainda haverá tolerância da comunidade internacional às ações de crime humanitário".

Michel Gherman, doutor em História Social e professor no Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também não acredita que a resolução do Conselho de Segurança da ONU irá garantir um cessar-fogo imediato. 

“Israel e o Hamas, cada um em seu lado, têm se mostrado contrários a qualquer tipo de negociação que leve ao fim, porque o fim significa o fim da guerra e o fim da guerra significaria a substituição dos dois agentes importantes dessa guerra, que são o Hamas e o próprio Benjamin Netanyahu’, acrescenta Gherman . 

Com vitória expressiva, o mandatário fica no poder até 2030.
por
Artur Maciel Rodrigues
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19/03/2024 - 12h

O presidente, Vladimir Putin, de 71 anos, foi reeleito para o seu 5° mandato no último domingo (18), na Rússia. O mandatário disputou as eleições contra três candidatos escolhidos: Nikolai Kharitonov (Partido Comunista),  Leonid Slutsky (Partido Liberal) e Vladislav A. Davankov (New People). 

 

A votação ocorreu por todo território russo, incluindo parte da Ucrânia, país que tem territórios invadidos e ocupados pela Rússia desde fevereiro de 2022. A eleição ocorreu um mês após a morte de Aleksei  Navalny, principal opositor de Putin.

 

O resultado divulgado pela Comissão Eleitoral Central, ainda no domingo, indicou uma vitória esmagadora de Putin, que conquistou 87% dos votos válidos. A vitória do presidente russo foi contestada por opositores, entre eles, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que chamou Putin de “ditador” e a eleição russa de “farsa”.

 

“É claro para todos no mundo que este indivíduo, como tantas vezes aconteceu na história, está simplesmente doente de poder e está a fazer tudo o que pode para governar para o resto da vida. Não há mal que ele não cometerá para prolongar seu poder pessoal. E não há ninguém no mundo que esteja imune a isso”, disse Zelensky.


 

Rodrigo Amaral, Professor de Relações Internacionais da PUC-SP,  explicou que esse movimento já era esperado. “É evidente que existem visões bastante críticas a respeito da veracidade desses números, e com essa vitória, ele vai ser o maior líder russo desde Stalin o que demonstra essa hegemonia explícita, que reflete o contexto populista da Rússia”. 

 

Desde o fim da União Soviética em 1991, a Rússia teve oito mandatos presidenciais distribuídos entre 3 presidentes. Boris Yeltsin, que governou de 1991 a 1999 renunciou à presidência, após má popularidade durante o segundo termo. 

 

Quem assumiu após a renúncia foi o próprio Vladimir Putin, o primeiro-ministro da época. Depois de ser presidente interino, ele concorreu e ganhou as eleições de 2000, e se manteve na presidência até 2008. Durante o governo de Dmitry Medvedev (2008 até 2012) voltou ao cargo de primeiro- ministro e em 2012, reassumiu a presidência.  

 

O ex-agente da KGB, está no poder na Rússia há pelo menos 24 anos, com os resultados e com a recente mudança na constituição do país, ele pode concorrer (e ganhar) mais um termo se mantendo presidente até 2036. Caso isso se confirme, Putin irá ultrapassar o recorde de 29 anos do governo de Joseph Stalin. 

 

Eleições em tempo de guerra

 

Apesar das eleições no país, as ofensivas contra a Ucrânia não pararam. Em resposta aos ataques ucranianos antes das eleições no dia 15 de março, o país revidou com um ataque onde morreram 16 pessoas e outras 20 ficaram feridas. 

 

Destruição pelos ataques russos em Mykolaiv, Ucrânia. Foto: Serviço de imprensa do Serviço
de Emergência do Estado da Ucrânia na região de Mykolaiv / Reuters 


 

A guerra da Rússia contra a Ucrânia completou 2 anos em fevereiro. Com a adição da Suécia na OTAN ,e indicativos de tropas francesas na Ucrânia. A tensão está em um ponto crítico, com Putin falando do uso de armas nucleares: “Do ponto de vista técnico-militar, claro que nós estamos prontos, estamos constantemente em estado de alerta, é reconhecido que o nosso Tríade nuclear é o mais moderno”. 

 

Amaral, argumenta que mesmo com a paz impossível, por causa das duas concepções de mundo distintas e guerra improvável, por que a chance de conflito nuclear é baixa, é algo caro para todos os lados. 

 

“Talvez seja o maior teste, através de uma guerra interestatal, uma guerra que envolve grandes potências. E existe essa questão do perigo nuclear,  ela sempre volta, mas que explicitamente é a história da Guerra Fria, particularmente, mostra que não existe”, complementa. 

 

Putin comenta sobre a morte de Navalny durante discurso 

 

Em seu discurso de domingo à noite, Putin rompeu o costume de não falar sobre a morte de Alexey Navalny, opositor do mandatário que morreu em fevereiro deste ano em uma colônia penal no Árctico. A família do e os apoiadores de Navalny acusaram Putin de ser o responsável, mas as alegações foram rejeitadas pelo Kremlin. 

 

“Quanto ao Sr. Navalny – Sim, ele faleceu. É sempre um acontecimento triste. E houve outros casos em que pessoas nas prisões faleceram. Isso não aconteceu nos Estados Unidos? Aconteceu, e nem uma vez”, disse.

 

Putin assumiu que poucos dias antes da morte de  Navalny foi informado uma proposta para trocá-lo por prisioneiros detidos em países ocidentais “A pessoa que falou comigo ainda não havia terminado a frase quando eu disse que concordo, mas, infelizmente, [a morte de Navalny] aconteceu, só  havia uma condição de trocá-lo para ele não voltar. Bem, essas coisas acontecem. Não há nada que você possa fazer sobre isso, isso é a vida”. 


 

Aleksei Navalny em Moscou, 2019. Foto: Sefa Karacan/Anadolu /Getty Images. 


 

Aleksei Navalny  durante anos demonstrou em seu blog as corrupções do Kremlin. Em 2021 ele fez uma reportagem onde ele falava do “maior suborno da história” uam mansão com o valor de 1,4 bilhões de dólares, localizado à beira do mar negro. Aleksei foi preso várias vezes, sofreu pelo menos 3 tentativas de envenenamento. E tentou concorrer à eleição na Rússia em 2018 mas foi impedido pelo Kremlin. 

 

Após madrugada de intensas negociações, representantes de Israel e do Hamas concordaram em estabelecer pausa de quatro dias
por
Manuela Troccoli
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23/11/2023 - 12h

Depois de vários dias de impasses, ataques e troca de acusações após ofensiva do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro de 2023, Israel e Hamas concordaram em uma trégua de quatro dias, que foi mediada pelo Catar. O anúncio foi feito na quarta-feira (22). 

A pausa permite a libertação de 50 reféns mantidos em Gaza - sendo mulheres e crianças - em troca de 150 palestinos - também mulheres e crianças - que estão detidos em Israel. Além da troca, o cessar-fogo interrompe os bombardeios israelenses em Gaza e viabiliza a entrada de ajuda humanitária. Segundo a Qahera, TV estatal do Egito, a trégua começa às 10h, no horário local (4h, horário de Brasília). Além disso, ainda nesta quarta-feira (22), foi destacado que Israel permitiu a entrada de combustível e ajuda humanitária em Gaza.

Em comunicado oficial enviado a Doha, o governo de Israel afirmou que a trégua humanitária pode durar mais tempo. “A soltura de cada dez novos reféns resultará em um dia adicional de pausa”, disse o comunicado. Nas redes sociais, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que “não queria, honestamente”, ao responder o comunicado oficial sobre o cessar-fogo. 

“O governo de Israel está empenhado em devolver todos os reféns para casa. Hoje à noite, ele aprovou o acordo proposto como um primeiro estágio para atingir esse objetivo”, diz o documento, divulgado após horas de deliberação.

O representante da ala política do Hamas, Musa Abou Marzouk, celebrou o acordo de trégua humanitária, que garante a troca de prisioneiros. "As disposições deste acordo foram formuladas em conformidade com a visão da resistência e da determinação que buscam servir o nosso povo e reforçar sua tenacidade diante da agressão", e acrescentou: "confirmamos que nossos dedos vão continuar nos gatilhos e que nossos batalhões triunfantes vão permanecer de prontidão", disse Marzouk.

Apesar da trégua, no início da reunião do governo, Netanyahu manteve o status de guerra no país. “Estamos em guerra e continuaremos a guerra até atingirmos todos os nossos objetivos. Destruir o Hamas, devolver todos os nossos reféns e garantir que nenhuma entidade em Gaza possa ameaçar Israel”, afirmou o premiê israelense.

Sob olhares do mundo

A mediação por parte do primeiro-ministro do Catar, Mohammed Ben Abdel Rahmane Al-Thani, teve início no domingo (19), em colaboração com o Egito e os Estados Unidos. Os países desempenharam um papel fundamental neste acordo, para garantir uma pausa momentânea no conflito, e a mediação de Al-Thani foi aprovada por Israel, Hamas e Estados Unidos.


Antes da aprovação do acordo, o presidente dos EUA, Joe Biden, manifestou otimismo sobre a proposta de libertação dos reféns. “Tenho conversado com as pessoas envolvidas todos os dias. Eu acredito que isso vai acontecer. Mas não quero entrar em detalhes”, disse Biden a repórteres na Casa Branca.

Sem citar lados, durante a cúpula do G20, na quarta-feira (22), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez questão de saudar publicamente o acordo. “Espero que esse acordo possa pavimentar o caminho para uma saída política e duradoura para este conflito e para a retomada do processo de paz entre Israel e Palestina”, comentou Lula.

Além de ter criticado a atuação dos organismos internacionais, incluindo o Conselho de Segurança das Nações Unidas, no G20, o chefe do executivo brasileiro também fez questão de apontar a demora da trégua humanitária, que aconteceu após 40 dias de guerra.

"Nós estamos vendo o que está acontecendo em Israel. Nós estamos vendo o que está acontecendo na Faixa de Gaza. Vocês viram que foi feito um acordo ontem (21) depois de 14 mil mortos, depois de quase 6 mil desaparecidos, depois de quase 6 mil crianças mortas. Depois de centenas de mulheres fazerem cesariana para tirar o filho antes de morrer", discursou Lula em evento no Palácio do Planalto.

A lista

O Ministério da Justiça de Israel publicou uma lista de 300 palestinos que podem ser libertados. A lista é composta, em sua maioria, por adolescentes presos no ano passado por delitos menos graves, incluindo membros do Hamas, Fatah, a Jihad Islâmica e a Frente Popular para a Liberação de Palestina.

Com 55% dos votos, ultralibertário ganhou a corrida presidencial contra Sérgio Massa e toma posse no dia 10 de dezembro.
por
Manuela Troccoli
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21/11/2023 - 12h

Neste domingo (19), o candidato Javier Milei, da coalizão La Libertad Avanza, foi eleito o novo presidente da Argentina. Milei venceu Sérgio Massa, atual Ministro da Economia do país, candidato da coligação peronista União pela Pátria, que pleiteava uma vitória progressista nas eleições gerais de 2023.

Às 20h do domingo (19), com 98,93% das urnas apuradas, o deputado Javier Milei foi considerado eleito após receber 55,72% dos votos válidos contra 44,27% dos votos válidos recebidos por Massa. A diferença de quase 12% foi a maior vantagem de um candidato eleito a presidente nas eleições da Argentina.

No 1º discurso como vencedor, o presidente eleito agradeceu a Patrícia Bullrich - candidata que foi terceira colocada no 1° turno e declarou apoio a Milei no 2° turno - e Maurício Macei, ex-presidente do país. “Hoje começa a reconstrução da Argentina”, disse Milei, ao afirmar que começou “o fim da decadência”. 

Antes mesmo da divulgação dos resultados oficiais, Sérgio Massa reconheceu a vitória de Milei. Através de um discurso aos apoiadores, Massa agradeceu os votos recebidos e parabenizou seu adversário. “O mais importante que temos que deixar esta noite é a mensagem de que a convivência, o diálogo e o respeito pela paz é o melhor caminho que podemos percorrer”, afirmou o ministro da economia. “Hoje terminou uma etapa em minha vida política e seguramente a vida me prepara outras possibilidades, mas sempre poderão contar comigo defendendo os valores do trabalho, a educação pública, a indústria nacional [e] o federalismo como valores centrais da Argentina", concluiu Massa.

 

Milei celebrando vitória
Cr: Divulgação

Repercussão do resultado

A vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina gerou repercussão internacional e incertezas sobre o futuro do país.

Nos Estados Unidos, o The New York Times descreveu Milei como um "economista e ex-personalidade televisiva praticamente sem experiência política". O jornal americano classificou o presidente eleito com "um estilo ousado, uma adoção de teorias da conspiração e uma série de propostas extremas que ele diz serem necessárias para derrubar uma economia e um governo falidos".
O ex-presidente americano Donald Trump parabenizou Milei pelo resultado e afirmou que estava “orgulhoso”.

No Brasil, sem citar Javier Milei, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou a democracia, as instituições argentinas e desejou boa sorte ao novo governo. Vale lembrar que em declarações recentes, ainda durante a campanha, Milei chamou Lula de “comunista nervoso”. Abertamente, Lula apoiou o candidato Sérgio Massa, e manteve uma estreita relação com o atual presidente argentino, Alberto Fernández.

O ex-presidente Jair Bolsonaro - apoiador de Milei durante toda campanha - o parabenizou pela vitória. "Parabéns ao povo argentino pela vitória com Javier Milei. A esperança volta a brilhar na América do Sul. Que esses bons ventos alcancem os Estados Unidos e o Brasil, para que a honestidade, o progresso e a liberdade voltem para todos nós", publicou o ex-presidente em uma rede social. 

O novo presidente argentino também recebeu saudações do presidente chileno, Gabriel Boric, e do presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou.

Dentro da Argentina, os jornais apresentam pontos de vista de ambos os lados. Enquanto o jornal Info Bae define a vitória como “mérito sujo”, o Clarín afirma que sua eleição representa “uma vitória para o movimento global de extrema direita”.

Quem é Javier Milei?

Economista, libertário e representante do partido La Libertad Avanza, Javier Milei atualmente constitui a câmara dos deputados. Apesar de ter vencido as eleições e demonstrar força nas urnas, Milei se destacou graças a seu desempenho fora da política, na música e no futebol. O agora presidente argentino classifica seu discurso como “liberal libertário”, e foi através de suas aparições neste sentido que conquistou espaço na política Argentina.

O deputado surpreendeu ao lançar sua candidatura à presidência ainda em 2020, três anos antes da eleição. O anúncio foi crucial para a carreira política, visto que marcou a consolidação da coligação “La Libertad Avanza”. Milei surgiu como nova força política e suas propostas atraíram pessoas que estão descontentes com a situação atual e desejam um fator novo na política.

A Argentina enfrenta um momento econômico delicado, com inflação de 138%, desvalorização do peso argentino e cerca de 40% da população na pobreza. Foi justamente este cenário que enfraqueceu a campanha de Massa - atual Ministro da Economia - e deu fôlego a Milei. O novo presidente terá de apresentar medidas efetivas e de rápido efeito, para mudar o quadro econômico nacional.

Entretanto, sua postura combativa também assusta algumas pessoas, e muitas vezes é tida como “descontrolada”.Chamam atenção também as polêmicas nas quais Javier Milei já se envolveu. Entre elas estão os discurso acerca da portabilidade de armas, criminalização do aborto, criação de um mercado de órgãos e a eliminação de ministérios.

Sobre a portabilidade de armas, o economista defende a desregulamentação do porte de armas de fogo e argumenta, com ênfase, que um Estado com livre porte de armas tem menos delitos. No âmbito da saúde, Milei se demonstrou a favor da proibição do aborto no país e sugeriu a criação de um mercado de órgãos, tendo em vista aumentar o fluxo de compra e venda na Argentina.

Ponto central na campanha, Milei defende uma redução no número de ministérios, que passariam de 18 para apenas 8. Com o enxugamento, os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação, Cultura, Obras Públicas e Mulheres, Gênero e Diversidade, seriam alguns dos dissolvidos. 

Os rumos da Argentina de Milei

A vitória de Milei simboliza uma sociedade que optou por se distanciar da política tradicional, elegendo um homem que nunca fez parte da estrutura que governou o país. O presidente eleito tem ideias econômicas que expressam uma variante extrema do neoliberalismo e com valores que, em muitos sentidos, contrastam com tudo o que parece irreversível na Argentina.

Durante a campanha, o candidato do partido Libertad Avanza falou sobre a “dolarização” da economia Argentina, dissolução de alguns Ministérios, 'dinamitar' o Banco Central, flexibilização Trabalhista, saída do Mercosul e afastamento da China e Brasil e a privatização de empresas e obras estatais. 

Segundo Milei, a “dolarização” será feita em dois anos e meio, é uma das propostas que mais recebeu holofotes. O ultralibertário afirmou que a medida irá retirar a Argentina da inflação, junto a flexibilização do mercado e com isso promover mais trabalhadores no país. 

Dolarizar um país significa adotar o dólar americano como moeda oficial, substituindo a moeda nacional, nesse caso o peso argentino. Isso implica em usar o dólar para transações cotidianas, preços, salários e demais atividades econômicas dentro do país, a fim de conter problemas econômicos e buscar uma moeda estável. Países como El Salvador e Equador já adotaram essa prática.

Entretanto, dolarizar um país é uma mudança complexa e envolve vários desafios, sobretudo constitucionais, e pode resultar na perda de controle sobre a política monetária nacional.

Seguindo a ideologia libertária, o novo presidente também falou sobre 'dinamitar' o Banco Central. Na prática, o que Milei defende é eliminar ou reduzir significativamente o papel e a influência do agente emissor de Pesos Argentinos - chamados por ele de "excremento" - na economia. O ultralibertário argumenta que o Banco Central interfere excessivamente no mercado financeiro e monetário, e que uma abordagem descentralizada será mais benéfica para a economia do país. 

Na política externa, o novo morador da Casa Rosada revelou a pretensão de se afastar de países de ideologias que classificou como “comunistas”, citando países como Brasil e China. "Não tenho parceiros socialistas" e “Eu não promoveria a relação nem com China, nem com Cuba, nem com Venezuela, nem com Nicarágua e nem com a Coreia do Norte”, foram algumas falas durante a campanha.

O novo presidente também falou sobre a retirada da Argentina do Mercosul, bloco econômico constituído por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Milei também se mostrou contra o ingresso dos argentinos no BRICS - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

"A todos que estão nos olhando de fora da Argentina, quero dizer que a Argentina vai voltar a ocupar no mundo o lugar que nunca devia ter perdido", afirmou Milei em seu primeiro discurso após a eleição.

Dentre as falas voltadas à educação, se destaca a proposta da criação de “vouchers” para tirar dos jovens a obrigatoriedade de estudar, implementando uma lógica de "cheques educativos", presente no Chile. Os "vouchers de educação" referem-se a um sistema em que o governo subsidia a educação pública e privada, dando às famílias um vale para ser usado nas instituições de ensino. Este vale pode se dar de maneira monetária e mistura setores público e privado na oferta de educação, ou seja, pode ser usado para pagar a mensalidade em escolas particulares credenciadas ou em algumas escolas públicas que aderiram ao sistema.

O sistema de vouchers pode ser visto de maneira controversa: de um lado, tem aqueles que argumentam que o modelo leva a disparidades no acesso à educação de qualidade, enquanto outros veem benefícios na liberdade de escolha e na competição entre as instituições.

Em saúde, Milei falou durante toda a campanha sobre o desejo de eliminar o sistema de saúde pública. No entanto, em seu último discurso, três dias antes das eleições, recuou. “Não vamos privatizar a saúde. Não vamos privatizar a educação. Não vamos reformar o Incucai (Sistema argentino de transplante de órgão). Não vamos privatizar o futebol. Não vamos permitir o porte irrestrito de armas”, afirmou o presidente eleito.

Primeiro turno

As eleições argentinas possuem peculiaridades. Assim como no Brasil, são realizadas a cada 4 anos, no entanto, para ser eleito presidente no 1º turno, é necessário conquistar ao menos 45% dos votos válidos ou 40% dos votos com uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado. Como isso não aconteceu após a votação do dia 22 de outubro, quando Massa obteve 36,64% dos votos válidos contra 30,01% de Milei, os candidatos partiram para a disputa do 2º turno, que colocou Milei no posto de Presidente da República após receber maior quantidade bruta de votos.

Próximos passos

A transição de governo já começou, e o primeiro encontro de Alberto Fernández e Javier Milei aconteceu na manhã de terça-feira (21). No país, esta etapa segue um protocolo específico que prevê vários encontros e coordenação entre o governo em exercício e a equipe do presidente eleito, para garantir uma transferência eficiente de responsabilidades que visa assegurar uma transição suave e estável entre as administrações.

O presidente eleito assume a Casa Rosada a partir do dia 10 de dezembro de 2023. Como primeira movimentação, os cidadãos aguardam ansiosamente a formação do gabinete de ministros, o que dará uma fotografia interessante do que esperar nos próximos quatro anos. Até o momento já foram anunciados o advogado Mariano Cúeno Liberona, que assumirá o cargo de ministro da Justiça, e a ex-candidata ao governo de Buenos Aires, Carolina Píparo, que comandará a Administração Nacional da Segurança Social (Anses). 

Além disso, é importante reforçar que Javier Milei não possui maioria no Legislativo argentino. Na Câmara dos Deputados, o partido de Milei tem apenas 37 das 257 cadeiras, enquanto no Senado, a sigla tem apenas oito das 72 vagas. O partido de Sérgio Massa, derrotado no pleito, segue com maioria na Câmara (107 deputados) e no Senado (34 senadores). A segunda maior bancada nas duas casas é a do partido Juntos pela Mudança, do ex-presidente Maurício Macri, com 93 deputados e 24 senadores. A composição do legislativo indica uma fragilidade de Milei, que terá desafios para emplacar suas pautas.

Com divisões e alianças políticas, eleições no país se complicam cada vez mais
por
Artur Maciel Rodrigues
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18/11/2023 - 12h

 

(debate presidencial do dia 12 de novembro, foto: AFP)

O segundo turno das eleições na Argentina acontecerá neste domingo, 19. A disputa presidencial acontece entre Javier Miliar e Sergio Massa, após um primeiro turno concorrido e, para alguns, surpreendente. O ministro da Fazenda ganhou 36% dos votos no país, Milei teve 30% e Patricia Bullrich, da coligação "juntos por el cambio", ficou com 26% do total.

 

O contexto eleitoral passa por uma mudança grande após membros de partidos se dividem entre si, em especial, “Juntos por el Cambio”, como explica o professor De Relações Internacionais da PUC-SP, Tomaz Oliverio Paoliello “Ele ficou muito mais marcado como um partido contra o kirchnerista do que como um partido ideológico em qualquer sentido. E o candidato anti-kirchnerista nessas eleições, é Milei.” 

 

Sergio Massa, da coligação peronista, teve sua candidatura diretamente influenciada pela situação da Argentina, que passa uma de suas maiores crises econômicas e uma forte seca, além de uma crise energética. “Todo o contexto dessa eleição é um contexto de crise econômica. É até surpreendente que Massa, sendo um pouco a representação dessa crise econômica tenha conseguido terminar essa primeira etapa em primeiro lugar”, acrescenta Paoliello. 

 

Além de atual ministro da Economia, Massa também atuou no governo de Cristina Fernández de Kirchner como chefe do gabinete dos ministros em 2009 e tornou-se presidente da Câmara dos Deputados, durante a presidência de Alberto Fernández. 

 

Javier Milei, passou os últimos meses entrando em contato com personagens importantes da política Argentina, como o ex-presidente Macri, denominado pelo candidato, em outros momentos, como "Socialista Nojento". Apesar disso, Milei afirma que suas ideias e do ex-presidente concordam em 90%. 

 

Sobre a aliança dos partidos mais centrais à Javier, Paoliello acredita que seja somente pela “conveniência eleitoral”. “Vários partidos dessa centro-direita acreditam que um futuro governo Milei vai ser fraco, e vai ser mesmo, não vai ter uma grande base congresso, não vai ter apoio popular de variados setores, a sociedade Argentina já está muito dividida” complementa.

 

O professor acrescenta que as divergências entre os dois candidatos aparecem muito na televisão, com Milei tendo mais atenção midiática, por alimentar a ideia de um personagem louco, por mais que tenha se “moderado” nos últimos meses. 

 

“Ele tem um tipo de posição política que funciona bem melhor quando não tem debate, quando ele tá falando por conta própria, esse estilo livre. Quando tem contraponto ele se dá muito pior” analisa o internacionalista.

 

Em contrapartida Massa é bem mais tradicional, em entrevista para o EL país o peronista, comenta sua história com a política, sua crença com os outros partidos e fala que no fim é “Milei sim ou Milei não”. 

 

Apesar da vantagem no primeiro turno, Paoliello chama atenção para uma possível queda no favoritismo de Massa. “|Como é típico em qualquer processo eleitoral, ele apareceu como candidato com mais votos, portanto é o candidato que mais pode perder votos”. 

Mesmo sem tapete vermelho ou apresentações, evento consagrou artistas, incluindo Anitta e Matuê
por
Victória da Silva
Vitor Nhoatto
|
16/11/2023 - 12h

 

Criado em 1994 pela MTV, se opondo aos prêmios estadunidenses, o European Music Awards (EMA) é uma importante premiação musical internacional. Este ano, apesar do cancelamento da entrega de troféus pela primeira vez em sua história devido às tensões mundiais, os vencedores foram divulgados neste domingo (5).

Eleitos pelo público, artistas como Nicki Minaj, Maneskin, Taylor Swift, JungKook e Anitta foram os destaques deste ano nas categorias principais. Já em relação às premiações locais, Matuê ganhou como melhor artista brasileiro.

Apreensão Europeia

Multidão de pessoas brancas em manifestação em uma rua de Londres com um semáforo ao fundo, segurando bandeiras da Palestina com uma mulher em foco de jaqueta vermelha e bandana branca e vermelha com os braços para o alto segurando um cartaz escrito: um genocídio não justifica o outro, em inglês.
Imagem: Manifestação pró Palestina em Londres - Foto: Henry Nicholls / AFP

A cerimônia, que já havia sido divulgada e seria realizada em Paris, foi cancelada uma semana antes de sua concretização. Em comunicado, a MTV alegou não ser um momento de celebração da música mediante à crise entre Gaza e Israel, mas de luto pelas milhares de mortes e devastação.

A emissora também destacou a mobilização de pessoas necessária para a realização da festa: “Dada a volatilidade dos eventos mundiais, decidimos não avançar com os MTV EMAs de 2023 por precaução com os milhares de funcionários, membros da equipe, artistas, fãs e parceiros que viajam de todos os cantos do mundo para trazer o show para a premiação.''

A tensão no oriente médio, que mistura razões geopolíticas, históricas e religiosas há mais de 70 anos, reverbera não só no evento, mas também em várias manifestações que vêm acontecendo em países europeus — como Reino Unido, Alemanha e França. Alguns artistas se pronunciaram sobre a grave crise humanitária como Dua Lipa, Zayn e Selena Gomez.

Vitórias e surpresas 

Cantora brasileira Anitta à esquerda, escorada em uma trave branca vestindo um top e um short preto com detalhes brancos nas bordas, além de estar com um óculos escuros no cabelo, o qual está amarrado e por fim, está usando brincos de argolas prateadas. À direita, está o cantor coreano JungKook em pé em um cenário de fundo claro e chão escuro, vestindo um terno oversized preto, o qual está desabotoado, calça social oversized cinza clara e um sapato social tratorado preto.
Foto Anitta: Gabriela Schmidt - Foto Jungkook: Reprodução/Bighit Music

Representando o Brasil em uma das categorias principais, Anitta desbancou grandes nomes como Shakira, Bad Bunny e Rosália, levando a estatueta de melhor artista latino. A ganhadora de dois VMAs também estava indicada em Maiores Fãs ao lado de Billie Eilish, Olivia Rodrigo e BLACKPINK. No entanto, tal qual Melhor Grupo, a categoria não teve vencedores, visto que a votação aconteceria durante a cerimônia.

Além da nossa garota do Rio, o dono de sucessos como “Máquina do tempo”, “Quer Voar” e  “Anos Luz”, Matuê, fez história ao vencer em Melhor Artista Brasileiro. Concorrendo com Anavitória, Kevin O Chris, Luisa Sonza e Manu Gavassi, ele alegrou os apreciadores de trap.

Conhecida pelo grande número de vitórias, Taylor Swift fez jus à fama, e das 7 categorias em que havia sido indicada, faturou 3. Ainda colhendo os frutos do seu último projeto inédito, Midnights, ganhou em Melhor Vídeo com o clipe de  “Anti-Hero”, Melhor Artista ao Vivo e Artista do Ano.

Apesar de toda a expectativa com relação à loira, a categoria de Melhor Artista Americano ficou com Nicki Minaj, primeira mulher negra a levar o prêmio. A rapper ainda faturou Melhor Artista de Hip-Hop, superando Travis Scott e Cardi B.

Outro destaque foi a vitória da banda Måneskin em Melhor Artista de Rock e Melhor Artista Italiano. A banda, que viralizou em 2021 com o remake de “Beggin’”, canção do grupo The Four Seasons liderado por Frankie Valli, está cada vez mais conquistando os adeptos do Rock e se realçando no cenário musical. 

A consagração do projeto solo de JungKook, integrante da boy band sul-coreana BTS, fez com que o artista de 26 anos ganhasse em Melhor Artista de K-pop e na categoria de  Melhor Música com o smash hit 'Seven' em parceria com a rapper americana Latto. Reforçando a ideia global da premiação e o foco em diversidade, Peso Pluma ganhou em Melhor Artista Novo e a categoria de Melhor Colaboração ficou com o sucesso 'TQG' de Karol G e Shakira. Na recém criada categoria Afrobeats, o nigeriano Rema levou o prêmio.

Billie Eilish ganhou em Melhor Artista Pop, David Guetta em Melhor Artista Eletrônico, Lana del Rey como Melhor Artista Alternativo e,  superando a cantora SZA, Chris Brown acabou levando Melhor Artista de R&B. Por fim, o grupo de K-pop TOMORROW X TOGETHER faturou o prêmio de Melhor Artista Push.

Com alto custo e rejeição, alemães questionam a construção não finalizada do monumento da reunificação do país.
por
Natália Perez
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03/11/2023 - 12h

Em 3 de outubro de 2019 a Alemanha completou 30 anos da reunificação. Para comemorar a data, um monumento à liberdade e unidade de Berlim foi anunciado. Agora, quatro anos depois, a obra ainda não foi concluída e os custos para a construção só aumentam. Afinal, quem quer esse monumento? Não há consenso, para a maioria dos alemães a homenagem não faz sentido.

A ideia é uma balança que simbolize a união e a liberdade alemã. Nomeada como “Cidadãos em Movimento”, a gangorra deve inclinar-se conforme as pessoas se moverem em volta dela exibindo em sua curvatura o slogan de 1989: “Nós somos o povo. Somos um só povo".

A gangorra sozinha medirá 50 por 18 metros, que é somente 7 metros de largura a menos do que uma piscina olímpica. Segundo o escritório de design responsável, Milla & Partner, a previsão de custo era de 15 milhões de euros, mas ao início das obras o valor subiu para 17 milhões. Entretanto, desde o anúncio da construção, Monika Grütter, ministra de estadual da cultura, não confirmou mais os valores.

 

previsões monumento
Previsão do monumento “Cidadãos em Movimento” (Divulgação Milla & Partner)

 

“Todos os envolvidos estão a tentar garantir que o monumento seja concluído rapidamente”, disse um porta-voz do Ministro de Estado da Cultura, promotor do projeto, ao jornal alemão DW. Entretanto, ainda não há uma data para inauguração, e a única certeza é de que não será feita em 2023. Para Olaf Zimmermann, diretor do Conselho Cultural Alemão, o simbolismo da balança é desatualizado e a justificativa para o adiamento da obra é porque "ninguém quer isso”, principalmente dada as crescentes tensões entre os dois lados. 

O monumento nunca terminado, localizado em frente ao Fórum de Humboldt, gera confusão para os alemães que não entendem o motivo de sua construção. Além do alto custo, há uma grande rejeição ao conceito de uma balança, já que nenhum dos lados considera que o processo de reunificação foi justo ou balanceado. 

Em 2020, a fundação Bertelsmann Stiftung realizou uma pesquisa com maiores de 55 anos e descobriu que os alemães ocidentais querem mais reconhecimento pelo papel financeiro e econômico que desempenharam. Enquanto que os alemães ocidentais a acreditam que deveriam ter mais reconhecimento pela pacificidade do processo. Além disso, para 84% dos entrevistados as coisas que funcionavam bem no sistema soviético foram descartados injustamente. 

"Os entrevistados no leste muitas vezes sentem que nenhuma nova sociedade comum foi criada naquela época. Em vez disso, com a unidade, o sistema da Alemanha Ocidental apenas lhes foi imposto, ao qual tiveram de se adaptar", comentou a fundação Jana Faus, do Instituto de Pesquisa de Berlim, sobre os resultados da pesquisa. O estudo concluiu que mesmo após os 30 anos da reunificação, a ideia de unidade alemã não está completa.

 

Canteiro de obra do monumento em maio de 2023. Foto: Sven Darmer
Canteiro de obra do monumento em maio de 2023, ainda sem sinal da construção da "gangorra". Foto: Sven Darmer

 

A reunificação alemã teve um significativo impacto na política mundial para além dos anos 90, e sua influência pode ser usada para refletir sobre o atual estado de polarização mundial. “Eram dois extremos e ninguém acreditava que isso ia dar certo. Para mim foi rápido demais, faltou planejamento”, comenta Gabriele Gorg, professora de alemão nascida em Siegen (lado capitalista), em entrevista à AGEMT. Gorg participou de um grupo de professores organizado pelas universidades de Munique e Berlim que visitava as escolas da Alemanha Ocidental pensando em como diminuir a desigualdade entre as vivências. “O muro tinha acabado de cair, ainda nem tinha essa data 3 de outubro”, diz. 

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Demonstração da divisão Alemanha Ocidental/Oriental. Imagem: BBC Brasil em "30 anos após a queda do muro de Berlim, 'barreira invisível' ainda divide a Alemanha em duas"

A maneira como foram encarados os desafios econômicos e sociais de integrar as duas economias em uma, deixou os alemães de ambos os lados insatisfeitos, com um sentimento de injustiça e de ter sido prejudicado em função do outro lado. “Kohl e Gorbachev estavam tão eufóricos em acabar com a divisão que fizeram de uma vez, sem pensar em todas as consequências. O choque foi muito grande. Até hoje, 30 anos depois, os salários ainda não são iguais”, explica a professora. 

A polarização atual envolve o ressurgimento do nacionalismo exacerbado em várias partes do mundo. Um exemplo disso no Brasil, é a monopolização de símbolos nacionais – como a bandeira – por militantes e políticos da extrema direita. Na Alemanha, a ascensão do partido político de extrema-direita AfD (Alternative für Deutschland – Alternativa para a Alemanha) causa preocupação nos partidos tradicionais, que se recusam oficialmente a cooperar por conta das visões radicais da sigla.

Em junho de 2023, pela primeira vez desde a fundação, o partido conseguiu eleger o líder distrital. Com 52,8% dos votos, Robert Sesselman foi eleito para governar o distrito de Sonneberg, no estado da Turíngia. A fragilidade da coligação que governo o país, formada pelos social-democratas, Verdes e os liberais (FDP), liderada pelo primeiro-ministro Olaf Scholz, é apontada como fator importante para o crescimento recente do AfD. Ainda sim, a aproximação do partido com o passado nazista impacta a imagem diante da população. 

Passadas décadas da reunificação, suas implicações continuam a afetar o país, interna e externamente. O desafio alemão, para além da obra do monumento, é a criação de uma identidade concreta, que possa levar a Alemanha a um papel importante no debate global sobre a polarização que afeta questões econômicas, políticas, sociais e ambientais.