Mais do que a "psique", memória é sobre gente. Memória é sobre a gente.
por
Luan Leão
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10/05/2024 - 12h

12 de maio. Dia das mães. Mãe às vezes pode ser avó. A tia. A madrinha. Uma irmã. Talvez a prima. Alguém que destine a nós um carinho extraordinário. Difícil colocar em palavras o que é o amor de uma mãe - seja ela quem for - para com o seu filho ou filha.

E quando ela já não está mais entre nós, o que fica? Alguns vão dizer que ficam as memórias. Lembranças de momentos felizes que dividimos juntos com quem se foi. Estudos apontam que as memórias que persistem por longos períodos envolvem uma região profunda do cérebro, chamada de área tegmental ventral. Isso porque alguns fatos, em um curto espaço de tempo, são "deletados" da nossa mente. 

Sabe aquela pessoa que você trocou olhares no transporte público na última semana? Você sabe, mas não lembra o rosto. Não sabe exatamente em que momento começou a olhar. Porque essa memória não te marcou. É óbvio que uma mãe marca o filho, e o inverso também. 

Mas e se você esquece? O que fica? Antes de qualquer indignação com a pergunta, adianto que, sim, é possível. Talvez você, assim como eu, esteja encarando o primeiro dia das mães sem essa pessoa aqui. Ou talvez já seja o segundo. Terceiro. Se você conta, é porque lembra. 

Uma vez li um artigo sobre a importância da memória. Para o autor, o neurocientista Carlos Tomaz, a memória é a base para os nossos conhecimentos, planos e desejos. Nesse artigo, intitulado "A Psicobiologia da Memória", o professor afirma que a memória é essencial para compreender a psique humana. 

Outro dia, no feed de uma rede social, uma moça escreveu que, após seis anos da morte da mãe, estava com a sensação de estar esquecendo detalhes sobre ela. Voz. Trejeitos. A moça disse que se sentia "traída" pela própria memória. Nesse caso, a falta dela. Essa sensação acompanha o luto. Qualquer que seja ele. Isso porque quando perdemos algo ou alguém, somos submetidos a um elevado nível de estresse. Esse estresse afeta nossos neurotransmissores cerebrais. E então ficamos "desconfigurados" com relação a algumas memórias.

 

Crônica de Dia das Mães
Saudade vai nos fazer lembrar. As memórias são vínculos eternos. 
Foto: Irina Somoylova


É comum que nesse momento algumas pessoas sejam medicadas. Os medicamentos benzodiazepínicos - mais vendidos e prescritos - além do efeito tranquilizante, também podem afetar nossa capacidade de guardar informações por mais tempo - a chamada amnésia anterógrada. Mas, lembrar de quem já foi é manter vivo dentro da gente o amor. Mais do que a "psique", memória é sobre gente. Memória é sobre a gente. Eu. Você que lê.

Qual música sua mãe cantarolava quando te colocava para dormir? Qual o cheiro dela? O que ela fazia que você gostava? Onde ela gostava de ir? O que ela gostava de fazer? Talvez você fique em dúvida nas respostas. Normal. São os neurotransmissores afetados. Mas, você lembra. Porque do amor a gente nunca vai esquecer. 

Se memória é sobre quem somos, lembrar quem partiu, ainda que com algumas confusões, é nos entender um pouco mais. Ou tentar. 

Seja seis anos ou algumas horas. Sempre vai dar saudade. E a saudade vai nos fazer lembrar. As memórias, ainda que por nós confundidas, serão o vínculo até a eternidade. 

O amor é a resposta para toda e qualquer pergunta quando falamos de mãe. Isso não está em nenhum artigo ou publicação em rede social. Por sorte da vida, tive duas. Me despedi de uma, mas sigo tendo outra. Não tem amar uma mais ou menos. Tem amar. Quem me ensinou isso foram elas. Para elas, a crônica e o meu amor. E o compromisso de lembrar do que for possível, sempre que possível, até não poder mais. Mãe é eterna dentro da gente. Feliz seu dia, mãe.

O futebol feminino é a resistência de mulheres silenciadas de forma sistemática. Resistiremos!
por
Helena Cardoso
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27/04/2024 - 12h

Revolta. Em qualquer mulher que acompanhou o caso de Kleiton Lima, esse sentimento surgiu. Foram 19 denúncias contra o agora ex-técnico do Santos Feminino. Foram 19 atletas desse mesmo clube, que tiveram a coragem de expor situações de assédio e, ainda assim, não foram ouvidas. 

Durante sua primeira passagem pelas Sereias da Vila, em 2023, foram escritas cartas, de forma anônima, denunciando comportamentos do comandante. Alguns meses depois, ele retorna ao mesmo cargo, e com diversos protestos é ele quem pede para sair, e não o Santos que o demite. Mesmo depois de incentivar as jogadoras a denunciar, o próprio clube as coloca sob uma situação de imenso desconforto. E mesmo assim, não o tira do comando. 

Os protestos foram fundamentais para a saída dele. De times do Brasileirão Feminino à Rayssa Leal na SLS, as mulheres mostraram que não vão se deixar ser silenciadas. Mas, mesmo assim, Marcelo Teixeira, presidente do Santos – time pioneiro no investimento do futebol praticado por mulheres – disse, em coletiva, que “o futebol feminino não precisa de protestos”.

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Jogadoras do time feminino do Corinthians protestaram, no único jogo de Kleiton Lima no comando das Sereias. - Foto: Reprodução/CBF

Para quem acompanha o futebol feminino, sabe que isso passa longe de ser a realidade, e que o cenário é bem diferente da modalidade masculina. Os protestos, a expressão de opiniões e daquilo que incomoda são infinitamente mais presentes, do que com os homens. A luta é diária, por mais investimentos e seriedade na modalidade. Tudo que elas querem são boas condições para praticar o esporte que elas escolheram viver. 

Ainda assim, é inevitável. 

A sensação que fica é de que nunca conseguiremos ser ouvidas. Acredito que seja por isso que é tão difícil para mulheres denunciarem casos de assédio, violência doméstica e estupro. Por que acreditam que não serão ouvidas. “Se dezenove mulheres não foram, por que eu, sozinha, seria?”. É por isso que muitas mulheres no país seguem sem voz. Infelizmente, alguns casos no futebol brasileiro mostram que quem faz tudo o que faz, ainda tem espaço. 

Mas continuaremos a ocupar os lugares que nos foram negados. Na imprensa. Nas arquibancadas. Nos gramados.

 

Como um tour de lugares assombrados por Nova York me levou ao lugar que incentivou a criação do oito de março como dia Internacional da mulher
por
Camila Stockler das Neves Moreira
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08/03/2024 - 12h

Era uma sexta feira escura e fria. Com os ventos uivantes do começo de fevereiro, todas as árvores de Nova York se estremeciam com suas sombras, se contorcendo e tomando as ruas pouco iluminadas de Greenwich Village, um dos bairros mais fantasmagóricos da cidade. Neste cenário era conduzido um tour de lugares assombrados do bairro. Histórias aterrorizantes de assassinatos, possessões e poltergeists invadiram o imaginário do grupo que se encaminha para o fim do passeio. E neste fim, estava uma antiga fábrica de roupas - hoje, prédio universitário - palco de um dos incêndios mais trágicos dos Estados Unidos: “The Triangle Shirtwaist Fire” em 1911.

“E dizem que ainda é possível sentir o cheiro de queimado e ver reflexos nas janelas das pessoas queimadas em agonia” nos diz o guia. E nesta situação eu não tenho outra escolha a não ser pensar ensandecidamente nesta situação porque…. Calma, mas é claro que eu conheço essa história! Esse incêndio não foi um dos motivos do dia da mulher ser lembrado no dia oito de março? Mas como um edifício com uma história tão terrível se tornou um prédio universitário e parada de tour de fantasmas? 

Não é de hoje que a especulação imobiliária de Nova York é agressiva, de tal maneira que alguns anos depois do incêndio, o prédio inteiro foi comprado por um especulador e anos depois doado para a NYU (New York University), ficando conhecido como Brown Building. Mesmo antes do incêndio os andares inferiores do lugar já serviam como depósito para a universidade, e após o fogo, os andares que a antiga fábrica ocupava se tornaram uma biblioteca e salas de aula. 

Desde então, já havia relatos de assombrações no prédio. Ainda assim, parando para pensar, faz sentido haver essas histórias: em 20 minutos de incêndio mais de 130 trabalhadores morreram no dia, em sua maioria jovens mulheres. Assim, marcando o pior incêndio industrial da história de Nova York. Sem saídas de emergência e com portas trancadas para evitar "preguiça", os trabalhadores que estavam no prédio tiveram que se jogar do nono andar ou morreram queimados.

E é nítido que além de histórias fantasmagóricas, esse incêndio catalisou a luta das mulheres na cidade em busca tanto por direitos trabalhistas quanto pelo direito ao voto. Além disso, provocou marchas e levou à criação de novas leis sobre segurança do trabalho, mas o mais importante foi uma das razões para o dia oito de março marcar o dia internacional da mulher.

No primeiro capítulo da série “O que é o tal do futebol”, conto os motivos que me fizeram gostar e, posteriormente, amar esse esporte incrível.
por
Guilherme Silvério Tirelli
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26/05/2023 - 12h

Por Guilherme Tirelli

Em algum lugar do planeta, existe alguém que viveu em Nápoles, em 86, ou na Baixada Santista na década de 60. Alguns testemunharam e vibraram com o esquadrão em 1970. Viram até mesmo o surgimento de uma laranja mecânica. Mais recentemente, outros muitos presenciaram uma nova forma de se pensar e jogar o futebol. Definitivamente, o Barcelona treinado por Guardiola no início da década de 2010, despertou a atenção de todos. Porém, ele nunca foi inédito – foi inspirado no Cruyffismo, oriundo da geração de ouro holandesa. Todo esse mar de coincidências apenas traduz o quanto esse esporte é maravilhoso.

Na verdade, o futebol é um fenômeno tão único, capaz de encantar o mais cético dos boleiros. Ele marca época e tem o poder de simbolizar ícones eternos. O soco no ar do Rei Pelé, o calcanhar de Sócrates, as estupendas cobranças de falta do Galinho. Como pode alguém jogar tão bem, mesmo com pernas tortas? Será que as “canhotadas” de Gerson não inspiraram inúmeros meninos mundo afora?

O fato é que o futebol consegue construir laços e inspirar a todos. Não é à toa que o maior sonho de um garoto da periferia pode ser o mesmo do jovem de Alphaville: tornar-se um jogador profissional. Seja dentro de um condomínio de luxo, nas “quadras de asfalto” ou nos terrões, o que prevalece é o drible, a vontade, o suor. Não importa se seus pés estão descalços ou dentro de uma Mercurial. No fim da história, cada pique, passe ou chute vem do coração.

Vimos ídolos nascerem e morrerem, carregando com eles uma mostra daquilo que o esporte teve de melhor, dentro e fora das 4 linhas. Acho que foram eles os responsáveis por aflorar a minha paixão pela bola. Talvez a magia do Bruxo, Ronaldinho, tenha feito toda a diferença. Possivelmente, as incontáveis e emocionantes voltas por cima do Fenômeno. A genialidade de um tal de Lionel Messi, o esforço monumental de Cristiano. Ou até mesmo a ginga brasileira, a garra argentina, o Tiki-Taka espanhol. O futebol realmente é um caso a parte e um dos capítulos mais belos da minha vida. Por 90 minutos, ou até mais, todos nós somos livres para pensar, imaginar e criar as jogadas mais lindas da história, em uma espécie de transe que transcende o tempo e o espaço.

Ídolos do futebol
Os ídolos do futebol - Fonte: Getty Images

É por tudo isso que, até o momento em que eu parar de respirar, irei amá-lo incondicionalmente. Esse é o tal do futebol. Aquele que emociona, e marca a trajetória daqueles fissurados por uma bola.

Em todos esses casos, seja a Copa ou uma eleição, vale o recado sóbrio e confortador do meu tio: “Calma, filho. Daqui a 4 anos tem de novo”.
por
Luan Leão
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02/12/2022 - 12h

Onde você estava em 2 de julho de 2010 ? Eu lembro perfeitamente onde estava e o que estava fazendo. Era meio da tarde quando peguei o telefone, em um ato de desespero, e liguei chorando para o meu tio. Ele estava no trabalho, e em meio aos meus soluços me acalmou e me tranquilizou dizendo: “Calma, filho. Daqui 4 anos tem de novo”.

Se você não lembra, em 02 de julho de 2010, o Brasil foi derrotado pela Holanda por 2 a 1 de virada, com um jogo cercado de emoções. O Brasil abriu o placar logo aos 10 minutos com Robinho. A partida estava longe de ser fácil, o time holandês era forte. Mas a camisa brasileira pesa independente de quem seja o adversário. Afinal, todo mundo tenta, mas só o Brasil é penta. 

Dunga, técnico da seleção na época, não vivia bom relacionamento com a imprensa durante o mundial. Mas uma vitória contra os holandeses certamente aliviaria a pressão sobre o técnico. O Brasil ainda tinha tido chances de ampliar o placar na primeira etapa. Não o fez. Indo para o intervalo vencendo, o Brasil estava a 45 minutos de voltar a uma semifinal depois de uma Copa em 2006 abaixo do esperado. 

Mas logo no começo do segundo tempo, antes dos 10 minutos de partida, Wesley Sneijder começou sua atuação de gala. Primeiro ele cruza para área, a tão temida “Jabulani” varia no ar, Júlio César e Felipe Melo não se entendem e a bola passa. Foi o empate holandês. 

Depois, após cobrança de escanteio, a bola é desviada na primeira trave, e o baixinho Sneijder aparece para completar de cabeça para o gol. Era a virada. Mais tarde, Felipe Melo ainda seria expulso. Era o fim. 

O apito final em decisões na Copa do Mundo não acaba apenas com o jogo. Acaba o sonho do campeonato, no nosso caso o hexa. Acaba a alegria de uma nação que gosta de viver a Copa do Mundo. De vestir a camisa verde e amarela, cantar o hino nacional e vibrar a cada lance. Gritar com a televisão. Abraçar um desconhecido depois do gol. Beijar de alegria com a classificação. 

Acaba e dá lugar ao silêncio. A raiva. A apatia. A frustração. As lágrimas. 

Seleção Uruguai
Adolescente uruguaio chora após eliminação para Gana. Foto: Siphiwe Sibeko / Reuters 

No Catar, foram as lágrimas de Luis Suárez. A fúria de Edinson Cavani com a cabine do VAR. A apatia dos jogadores alemães com a desclassificação mesmo após a vitória. Uma Copa do Mundo permite esses dissabores. Ganhar não é ganhar. Afinal, conta mesmo é quem ganha a taça. Ou talvez não. 

Pode ganhar um povo, como os palestinos, que vibraram com uma campanha espetacular de Marrocos. Os tunisianos, que foram eliminados, mas saíram vencendo os colonizadores franceses. Traz esperança para a Costa Rica, de algo novo que pode vir a ser. Mas também tem tristeza. Tristeza dos equatorianos, no último jogo antes de sentir o gosto do mata-mata. 

Seleções Marrocos
Jogador marroquino comemora classificação com a bandeira da palestina. Foto: Reuters

Uma Copa do Mundo é como uma eleição. Pode despertar sentimentos diversos dentro de cada um de nós. Somos diferentes. Pensamos diferentes. Sentimos diferentes. Perder, não ganhar ou se desclassificar, pode doer. Machucar. Frustrar. Decepcionar. Fazer chorar. Despertar um ataque de fúria. Mas passa. 

Em todos esses casos, seja a Copa ou uma eleição, vale o recado sóbrio e confortador do meu tio: “Calma, filho. Daqui a 4 anos tem de novo”. Serve para quem fica pelas rodovias ou pelo caminho da fase grupos. Ganhar ou perder faz parte do jogo. Mas, mais importante que ganhar ou perder, é saber sentir o agridoce do competir. 2026 é logo ali, e aí começa tudo de novo.

 

Bolsonaro foi chamado de Tchutchuca do Centrão e duas crônicas foram necessárias para dar conta do recado
por
Artur dos Santos
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19/08/2022 - 12h

Se tem uma coisa que a gente aprende com apelidos é que, se reagirmos, eles pioram e quem nos zoa demorará pra esquecer. Acontece com todo mundo, pode ver. Pergunta pra sua priminha, seu irmão ou até seu pai (porque a gente sabe que o apelido não tem limite de idade aqui neste país). Zoiudo, pernudo, “ô grande!”, dentinho, espeto, rato, bobo alegre, cabeçudo, pé de meia, agente secreto, pinguim, batman, tchutchuca do centrão - a nossa criatividade não tem limites. Agora, o exato momento em que você reage negativamente a esses apelidos é o seu batizado extraoficial… daí pra frente não tem jeito. Se, por exemplo, você ficar bravo que te chamaram de Tchutchuca do Centrão e, ainda, reagir, você é oficialmente a Tchutchuca do Centrão, não tem outra. Então fica a dica, sr. Centrão, reagiu, o apelido colou, se não a gente esquecia rápido.
 

Dose dupla! É muita coisa para uma crônica só então fiz duas. Não vai se acostumando, hein!?

 

Trombadinhas, Caixas Baixas, Capitães da Areia, Presidente da República… assim que chamo aqueles que batem carteiras e celulares nas ruas. O último apelido é recente, afirmo; não sabia que um presidente tentaria roubar um celular ao vivo - ênfase no tentar. Enfim, Bolsonaro por muito não consegue pegar um celular da mão de um youtuber que lhe chamava de “Tchutchuca do Centrão” (olha as coisas que este país me faz explicar) e acho que se tornou presidente pois seu futuro de batedor de carteira seria, sem dúvidas, incerto. Tem histórico de atleta, isso sabemos, então conseguiria escapar da polícia todas as vezes que não conseguisse, por muito, pegar um celular de um turista distraído pelo MASP. Não sei não, ein? Tô começando a entender o porquê de termos tantos batedores de carteira hoje em dia: por fome e miséria? Não; eles sabem que o pior deles pode se tornar presidente! Ah deve ser uma competição e tanto; já imagino até o nome “Quase batedores de bolso” e o troféu é “Bolsonaro, o erra bolso” - em bronze, lindo! Se forem tão ruins em bater bolsos, poderemos nos despreocupar e andar mexendo no celular, o problema é se forem tão milicianos quanto quem o prêmio homenageia. 

 

Agora é oficial: o processo eleitoral começou. Lula e Bolsonaro mostraram suas armas.
por
Henrique Alexandre
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17/08/2022 - 12h

O pontapé inicial das eleições brasileiras começou oficialmente. Embora os últimos meses tenham sido de movimentações políticas intensas com os principais candidatos disputando pela melhor visibilidade junto ao eleitorado, somente a partir de hoje, segundo o TSE, estão liberadas as propagandas eleitorais e os pedidos de votos.

Para marcar o início das eleições, os líderes em intenção de votos para a presidência da República foram à lugares representativos de suas trajetórias políticas.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu uma fábrica de automóveis, em São Bernardo do Campo para iniciar seu 3° mandato como presidente. O local escolhido pelo petista é um berço do sindicalismo operário e deu visibilidade ao ex-presidente durante a ditadura militar. Lula optou por estar junto ao chão de fábrica. Resta saber se o "chão de fábrica" estará com o PT nessa eleições, o que não ocorreu em 2018.

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Luis Inácio Lula da Silva tenta seu terceiro mandato como presidente de república - Foto: Carla Carniel/Reuters



Jair Bolsonaro (PL) também escolheu um lugar representativo para sua trajetória politica. O atual presidente foi até Juiz de Fora, em Minas Gerais, local do atentado à faca que sofreu em 2018, para lançar a sua candidatura. Bolsonaro afirmou que a cidade representa o seu renascimento e que por isso o escolheu. O atual presidente discursou para os seus apoiadores, mantendo a narrativa conservadora, cristã e da luta do "bem contra o mal"

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Segundo lugar nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro tenta se manter no poder - Foto: MAURO PIMENTEL/AFP via Getty Images


Serão contadas novas histórias até o 1° turno das eleições de 2022. Os dois nomes da política brasileira neste momento já estavam se provocando e se atacando antes do pontapé inicial. Com o sinal verde, a tendência é o aumento da temperatura.

Digo apenas Lula e Bolsonaro, pois, com o passar do tempo, fica cada vez mais claro que a terceira via não decolou e não vai se quer fazer cócegas aos atuais candidatos.

Agora, resta saber quais serão os novos enredos para a trajetória política do candidato petista e do atual presidente. De qualquer forma, o país vai registrar a sua maior eleição desde a redemocratização. Muita coisa estará em jogo.

Já vi muita coisa, agora, "uma churrascaria expulsar um gado é novidade".
por
Artur dos Santos
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10/08/2022 - 12h

“Acho que agora eu vi de tudo. Sempre disse isso, mas nunca com certeza. Agora sim. Sabe o que eu vi? Vi a matéria prima de um estabelecimento sendo expulsa pela porta da frente. Achei muito, muito estranho… mas sim, eu vi. É como ver um vendedor expulsar um fone de ouvido bluetooth da banquinha, um cozinheiro expulsar o dente de alho da cozinha, um capitalista se desfazer da mais valia, um PSDBista recusar merenda, enfim… Eu vi uma churrascaria expulsar um gado. Vou sair da abstração, já deu né? Bolsonaro foi expulso de uma churrascaria e eu não sei mais de nada. Nem na churrascaria, sonorizada por sertanejos-universitários-apoiadores-do-agro-negócio e habitada por carnívoros CACs, o nosso gado mor tem espaço…” “pra onde ele foi?” “Já te disse, dessa vez eu sei de tudo, vi tudo e tenho certeza!” “Para onde ele foi?” “Ah, agora que eu tenho informação queria te fazer esperar mais um pouquinho.” “Pra onde ele foi?” “Voltou pro cercadinho.”

 

O Brasil pode ter de tudo! Inclusive presidência à distância...
por
Artur dos Santos
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02/08/2022 - 12h

 

Sinceramente eu estou sem palavras. Queria começar essa crônica de maneira menos clichê, mas não fui capaz. Enfim, o que importa é que o Brasil poderá ter seu primeiro Presidente a Distância! Exatamente: o agora ultrapassado EAD dá lugar ao novissíssimo PAD - Presidência a Distância. Não entendeu? Pois explico agora: Roberto Jefferson acabou de lançar sua candidatura presidencial. Não achou estranho? Nada estranho? Nada mesmo? Nem o fato de o ex-deputado estar em Prisão Domiciliar? 

Sim: poderemos ter um presidente que não pode sair de casa. O novo conceito PAD está a todo vapor: já penso em comícios digitais, em boca de urna via ligação de facetime e até visitas virtuais às feiras de rua de todo o Brasil. 

O novo presidente da República pode não precisar - ou melhor, não poder - sair de casa e isso é espetacular: imagina quantos problemas poderiam ser evitados por uma acidental falta de luz na rua? Já me imagino telefonando à Enel e tendo o seguinte diálogo: “Alôu Enel, o presidente-caseiro está sendo corrupto novamente e, como ele já está preso, não pode ser preso de novo… já sabe, né?”, “Claro, jornalista-anônimo-e-completamente-respeitado, vamos cortar a energia do bairro, mas é a terceira vez essa semana”. Gente, quantas possibilidades! Se eleito, saberemos toda a hora aonde estará: em casa, oras. Já vejo as manchetes: “Presidente zera o netflix e pede à ANCINE que faça mais filmes”, ou até: “Presidente acorda 5 minutos antes do pronunciamento e tem remelas nos olhos em rede nacional”. Ai ai, ein?

 

O livre e mesclado mercado ataca novamente! Agora eleitores se preocupam em comprar toalhas.
por
Artur dos Santos
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26/07/2022 - 12h

O livre mercadinho não tem limites e continua a me impressionar a cada quatro anos… Antes eram simples bonés, camisetas, bolsinhas, copos, canecas, carteiras, óculos, shorts, cuecas, meias, lencinhos, marca páginas, capinhas de celular, carregadores, fones, cadernos, blusas de frio (embora as eleições marquem o início da primavera) e as mais impensáveis bugigangas como talheres, tocas, garrafas… já falei carteiras? Todas de todos os espectros políticos, claro - senão não seria o livre e mesclado mercado. 

Mas sabe o que eu não tinha visto? Toalhas… sim, toalhas. De todos os tamanhos e de todos os candidatos e algumas com preços mais altos do que as intenções de voto até agora divulgadas - como é o caso da Simone Tebet: nunca vi toalha custar um real com margem de erro -, as toalhas políticas tomaram conta dos varais improvisados de vendinhas na grande São Paulo. 

Sabe o que eu acho? Deve ser por causa da pandemia; agora nos importamos mais com a higiene, e nada mais convidativo para cuidar da higiene do que secar seu corpo com o rosto do seu presidenciável favorito. 

Próximos passos? Higiene bucal, isso sim! Vão ter escovas de dentes, pastas e enxaguantes bucais - a indústria farmacêutica faz um imenso boom na política novamente! -, embora o que alguns candidatos e eleitores mais precisem seja sabão pra lavar a boca.